O resultado do PIB no quarto trimestre, divulgado na sexta-feira, 7/3, veio abaixo da mediana das expectativas do Projeções Broadcast. O crescimento de 0,2% ante o terceiro trimestre, na série dessazonalizada, veio no piso das estimativas (a mediana era de 0,4%). O crescimento ante o 4º tri de 2023, de 3,6%, também veio abaixo da mediana de 4%.
Muitos analistas identificaram hoje, no resultado do 4º tri de 2024, o momento em que a economia brasileiro de fato mostrou desaceleração, depois de crescer 3% e 3,2% em 2022 e 2023, ritmo percebido como acima do potencial. Em 2021 o PIB teve alta de 4,8%, mas se recuperando da queda de 3,28% em 2020, ano inicial da pandemia.
Particularmente relevante foi o recuo de 1% do consumo das famílias no quarto trimestre (ante o 3º tri), sinalizando demanda interna mais fraca.
Laura Moraes, economista da Neo Investimentos, aponta condições financeiras piores (depreciação e alta de juros de mercado) e o fim dos gastos eleitorais dos municípios como algumas causas para a freada do terceiro para o quarto trimestre.
Mas sua expectativa para o primeiro trimestre deste ano, no qual se concentram os efeitos da ótima safra, é de um crescimento em torno de 1%, com alguns "respingos" para o segundo trimestre. E, na sequência do ano, vai se verificar qual é a intensidade dos efeitos defasados da alta da Selic a partir de agosto.
Já outra profissional do mercado financeiro, que conversou em "off" com a coluna, avalia que o resultado fraco do quarto trimestre se deve principalmente à retirada do impulso fiscal que vinha forte há vários trimestres.
"Quando sai esse fator fiscal a gente verifica que a política monetária já era bem restritiva, mesmo quando a Selic estava em 10,5% [até o final de julho]", ela diz.
A analista comenta que alta recente da Selic - hoje em 13,25%, com expectativa de chegar até algo em torno de 15% - ainda não teve efeito nenhum, por causa da defasagem da política monetária.
Na sua visão, o BC, na sua comunicação, já alertou para o risco de uma freada mais abrupta da atividade, e, portanto, deve monitorar atentamente os dados de atividade. Mas esse risco não deve se materializar no primeiro trimestre, por causa do impulso da agricultura, que vai além do setor propriamente dito.
Silvia Matos, coordenadora de macroeconomia do IBRE-FGV, assinala que a demanda interna privada, depois de crescer bem acima do PIB em 2024 (5,3% contra 3,4%), deve se expandir na mesma medida do PIB em 2025 - a sua projeção é de alta de 1,7% para ambos.
No geral, pode-se dizer que duas questões pairam sobre o desempenho da economia este ano. A primeira, mencionada por Matos e Moraes, é sobre até que ponto o governo vai politicamente aceitar a desaceleração em curso, às vésperas de um ano eleitoral. Medidas na direção contrária têm sido cogitadas e/ou aplicadas, como as referentes ao FGTS, empréstimo consignado, crédito dos bancos públicos etc. O risco é o de terminar com uma desaceleração de qualquer forma, mas insuficiente para fazer a inflação entrar em processo de convergência para a meta.
Pelo outro lado, como apontado pela analista que conversou com a coluna em off, há também quem veja algum chance de um "overshooting" do aperto monetário já contratado, embora a própria profissional ressalve que ainda não há sinais nesse sentido - e provavelmente não haverá no primeiro trimestre, por causa do impulso da agropecuária.
Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)
Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 7/3/2025, sexta-feira.