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Economia e políticas públicas

Opinião|Mais um ano de surpresa positiva no PIB?

Dados de serviços, comércio e empregos formais de janeiro ultrapassaram projeções mais otimistas do mercado. Expectativa de crescimento no ano pode se deslocar de aproximadamente 1,5% (no início de janeiro) para 2%, ou até um pouco mais.

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A economia brasileira dá sinais de que, novamente, pode crescer em 2024 mais do que se previu no início do ano (como em 2023 e outros anos do passado recente).

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Em 2/1, primeiro dia útil de 2024, a mediana das projeções de crescimento do PIB este ano do Focus (sistema de coleta de expectativas do BC) era de 1,55%. Na rodada divulgada na sexta anterior (8/3), o número já tinha subido para 1,78%. E há analistas agora pensando que pode dar 2% ou talvez até acima disso.

Dados de janeiro surpreenderam vigorosamente para cima. Ontem, soube-se que as vendas do comércio varejista tiveram alta de 2,5% em janeiro, ante dezembro, com ajuste sazonal. Já no conceito ampliado, que inclui veículos, material de construção e atacado alimentício, a elevação em janeiro, na mesma base de comparação, foi de 2,4%. Tanto no caso do conceito "restrito" (o primeiro mencionado) quanto no ampliado, o avanço do varejo em janeiro veio acima do teto das expectativas do Projeções Broadcast.

Hoje o IBGE divulgou que o volume de serviços prestados em janeiro cresceu 0,7% ante dezembro, na série dessazonalizada, novamente superando o teto das estimativas do Projeções Broadcast, que era de +0,2%. E o mesmo padrão se repetiu, também hoje, no resultado do Caged (empregos formais), com 180,4 mil postos abertos liquidamente em janeiro, acima da projeção máxima de 115.496 do Projeções Broadcast.

Carlos Kawall, sócio-fundador da gestora Oriz Partners, nota que as projeções de crescimento do PIB no primeiro trimestre (em relação ao último de 2023, na série dessazonalizada), que andaram em torno de 0,5%, já estão subindo para mais perto de 1%. Os indicadores mencionados acima, claro, empurraram as projeções do PIB do primeiro tri. Embora aqueles indicadores só se refiram a janeiro, Kawall aponta que dados de vendas de automóveis em fevereiro, já divulgados, reafirmam o bom momento.

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Uma possível fonte de estímulo no início do ano foi o pagamento pelo governo de R$ 93 bilhões em precatórios no final de dezembro. Kawall observa que categorias de serviços ligados a empresas também tiveram bom desempenho nos dados de janeiro.

Do lado das dúvidas e preocupações quanto à atividade, o gestor cita a retração da agropecuária após o salto espetacular de 2023 (mas, neste primeiro trimestre, outros fatores, como os já citados comércio e serviços, podem compensar esse efeito); e o padrão de crescimento puxado pelo consumo e mais pífio em termos de investimento, o que é problemático em termos de sustentabilidade. Há uma ligação entre os dois pontos, pois safra mais fraca é desfavorável para máquinas agrícolas e caminhões, que são componentes do investimento.

De qualquer forma, sintetiza Kawall, os dados são predominantemente bons em termos de atividade e mercado de trabalho. Como ele vê a inflação de serviços sinalizando pressão nos meses recentes, acredita que o BC possa mudar o "forward guidance" na reunião do Copom da próxima semana - isto é, a sinalização, que veio se repetindo a cada corte de 0,5 ponto percentual (pp) da Selic do atual ciclo de afrouxamento monetário, de que cortes (o plural aqui é importante, pois sinaliza pelo menos dois) da mesma magnitude deveriam ser realizados nas reuniões subsequentes.

O economista projeta corte de 0,5pp na reunião do Copom da próxima semana, e mais outro da mesma magnitude na de maio, a partir de quando o ritmo de redução seria diminuído para 0,25pp por reunião. Se isso for verdadeiro, o BC deve alterar o forward guidance, no mínimo colocando no singular a intenção de repetir 0,5pp na próxima reunião (de maio); ou largar de vez a orientação prospectiva, indicando que cada decisão seria dependente dos dados conhecidos na ocasião em que seja tomada.

Outro gestor ouvido pela coluna não vê uma pressão mais preocupante na inflação de serviços. Este, aliás, é um debate que vem dividindo o mercado, como discutido neste espaço na coluna de 12/3, terça-feira. Esse segundo gestor enxerga, na alta forte dos serviços subjacentes em janeiro (com moderação em fevereiro), influência de fatores idiossincráticos e de possíveis distorções dos métodos de dessazonalização (que foram de fato perturbados com a pandemia), como nos casos de serviços bancários e planos de celular. Adicionalmente, pensa que a aceleração de preços de serviços pessoais é bastante pontual, em itens como cabelereiro, por exemplo.

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Para ele, "pode ser que a pressão do mercado de trabalho aquecido bata alguma hora na inflação, mas a minha impressão é de que isso ainda não se caracterizou". Dessa forma, vê a conjuntura econômica numa espécie de "melhor dos mundos", com atividade em aceleração e inflação comportada.

Esse gestor projeta o PIB brasileiro crescendo pouco mais que 2% em 2024, com IPCA de 3,4%.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 15/3/2024, sexta-feira.

Opinião por Fernando Dantas
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