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Fiat tem primeira mulher no comando de uma fábrica no Brasil

Juliana Coelho, engenheira de 31 anos, vai chefiar a área de manufatura do complexo da Jeep em Goiana (PE), inaugurado em 2015

Na próxima quarta-feira, um dia após completar 31 anos, a engenheira Juliana Coelho assumirá o comando da fábrica da FCA Fiat Chrysler em Goiana (PE), a mais moderna do grupo no mundo e onde trabalham hoje 5,6 mil pessoas. É a primeira mulher a ocupar esse cargo no grupo na América Latina. 

Pernambucana de Olinda, ela formou-se em engenharia química porque pensava em seguir carreira na área de petróleo e gás, forte na região. Amava carros pois, quando criança, adorava passear com o pai nos diferentes modelos que ele dirigia pertencentes à locadora onde trabalhava.

Juliana iniciou carreira na FCA, onde passou por vários cargos Foto: Fiat/Divulgação

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“Me lembro de cada detalhe do dia em que meu pai comprou seu primeiro carro zero – um Fiat Uno de quatro portas –, em 1996”, contou ela na quinta-feira, 2, num intervalo das várias reuniões que teve para discutir projetos na nova função. “Perdi meu pai muito cedo e acho que passei a gostar de automóveis por causa dessas lembranças.”

Quando soube que Pernambuco teria uma fábrica de automóveis em Goiana, região cercada por canaviais, se interessou pelo assunto. Dois anos antes da inauguração, o Polo Automotivo Jeep, como foi chamado, abriu inscrições para trainee e Juliana, alertada pela avó, enviou currículo e entrou para o grupo de 40 selecionados, dos quais entre 10 e 15 eram mulheres.

Primeiro emprego

Era seu primeiro emprego. Fez cursos no Brasil, passou quatro meses na Itália e na Sérvia conhecendo os métodos de produção das fábricas da Fiat.

“Acompanhei todo o processo de nascimento de uma fábrica: a construção, a chegada de equipamentos e robôs, a estruturação de cada setor, o início da produção e a seleção de pessoas, muitas delas cortadores de cana e catadores de caranguejo que conseguiram o primeiro emprego formal”, diz Juliana. A fábrica foi inaugurada em 2015 e hoje produz os utilitários-esportivos Renegade e Compass, da Jeep, e a picape Fiat Toro.

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Inicialmente, ela foi trabalhar no setor de pintura, o mais ligado à área química. Era a única mulher e destacou-se pelo conhecimento técnico e habilidade de liderar equipes e logo conquistou o posto de gerente. Três anos e meio depois assumiu a gerência da área de montagem de veículos. Num setor tradicionalmente dominado por homens, ela seguiu conquistando espaço.

Há ano e meio foi convidada para dirigir a área responsável por novos desenvolvimentos na manufatura na América Latina (o grupo tem fábricas no Brasil e na Argentina). Foi então transferida para a fábrica de Betim (MG), e agora retorna a Pernambuco para substituir o também engenheiro italiano Pierluigi Astorino, de 38 anos, que vai assumir o cargo de diretor de manufatura do grupo na América Latina. 

Agora, com sete anos de FCA, tem como missão dar continuidade ao trabalho de aperfeiçoar a produção da Jeep, que em breve receberá novos produtos. Ela assume a unidade de Goiana em plena pandemia do coronavírus, com produção reduzida e ociosidade diante das previsões de queda de 40% nas vendas de carros no mercado brasileiro neste ano.

“É um desafio ainda maior, pois sabemos que não vamos fazer o que projetamos no início do ano, mas também vemos oportunidades para a retomada principalmente em 2021”, afirma Juliana.

Como única mulher no momento a ocupar esse cargo no Brasil, ela diz encarar a tarefa com “muita humildade e abertura para continuar aprendendo todos os dias, buscando sempre o desenvolvimento da região, das pessoas e a qualidade do nosso produto final, que é o que atrai nossos consumidores”.

Mulheres no comando

Pelo menos outras duas montadoras tiveram mulheres no comando de fábricas no Brasil. A General Motors teve Sonia Campos como diretora da unidade de São Caetano do Sul (SP) de 2011 a 2015, e a PSA Peugeot Citroën teve Ana Isabel Fernandes dirigindo a fábrica de Porto Real (RJ) de 2012 a 2014.

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Em cargos de alto comando, a GM teve duas presidentes mulheres de 2010 a 2012: Denise Johnson e Grace Lieblin. Hoje, a montadora tem como vice-presidente Marina Willisch, também a primeira mulher a ocupar esse cargo.

A PSA é a única montadora que tem uma mulher como presidente no Brasil atualmente, Ana Theresa Borsari, no cargo desde 2015. Levantamento feito pela agência Automotive Business mostra que a presença feminina na alta gestão das empresas do setor automotivo (montadoras e autopeças) é de apenas 6%. Na média gestão (gerência) é de 12%.

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