Financiamento climático e mercado de carbono: entenda as demandas das empresas na COP-28

Brasil terá 2,4 mil participantes na Conferência do Clima, um número recorde

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Foto do author Luciana Dyniewicz
Foto do author Beatriz Bulla

O financiamento climático será um dos principais temas para o setor produtivo durante a 28ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-28) . Na COP-15, realizada em Copenhague em 2009, ficou estabelecido que os países desenvolvidos chegariam a 2020 pagando US$ 100 bilhões por ano às nações mais vulneráveis para elas se adaptarem aos efeitos da mudança climática.

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Em 2020 e 2021, porém, o valor desembolsado ficou em US$ 83,3 bilhões e US$ 89,6 bilhões. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), estima que, “provavelmente”, a meta será atingida em 2023, com um atraso de quatro anos. A expectativa é que, nesta COP, seja anunciado algum mecanismo que permita ao setor privado participar desse financiamento a partir de 2025, o que poderia impulsioná-lo.

“O financiamento climático é um dos grandes temas da COP. Se isso for aprovado (a participação do setor privado), deverão ser criadas regras para que os investimentos feitos pelas empresas não impliquem em dupla contagem”, diz Viviane Romeiro, diretora de clima, energia e finanças sustentáveis do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

Apesar de ainda não haver detalhes de como o financiamento privado funcionaria, uma ferramenta para evitar a dupla contagem impediria uma multinacional na Holanda, por exemplo, de contabilizar um projeto de descarbonização realizado no Brasil como parte da meta dos dois países, explica Romeiro.

COP-28 acontece em Dubai. EFE/EPA/ALI HAIDER  Foto: ALI HAIDER/EFE

De acordo com a executiva, empresas brasileiras estão tendo um papel mais participativo nas discussões ambientais desde a COP-26, realizada em Glasgow, na Escócia, em 2021. Naquele momento, houve uma pressão das companhias para que a meta de zerar as emissões líquidas de carbono do País fosse antecipada de 2060 para 2050, o que acabou acontecendo. “Os eventos climáticos extremos que o Brasil vem vivenciando vão fazer o setor empresarial ser demandado por ações ainda mais ambiciosas e de vanguarda”, diz Romeiro.

O biólogo e presidente do Conselho do Instituto Arapyaú, Roberto Waack, acredita que as empresas brasileiras conseguirão anúncios de investimentos na área de economia verde nesta COP. “O setor privado brasileiro aprendeu que a COP é um espaço para comunicação de estratégias ligadas a mudanças climáticas, transição energética e transição alimentar. Ele é um espaço de encontro com a comunidade financeira e essa é uma das expectativas dessa inundação de brasileiros e de empresas brasileiras. A expectativa é uma aproximação com esse mercado de capitais”, afirma Waack.

Área de desmatamento na região de Altamira, no Pará Foto: Nacho Doce/Reuters

Ele diz que deve haver conversas entre o setor de alimentação e o de restauração florestal, avanços no relacionamento entre companhias de baterias e mineradoras brasileiras, além de investimentos em hidrogênio verde.

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Wack acrescenta que podem surgir anúncios relevantes de empresas na área de sistemas de rastreabilidade. “O setor privado brasileiro é muito menos dependente de políticas públicas, multilaterais ou nacionais, do que era há um tempo”, diz Waack.

A delegação brasileira na COP tem 2,4 mil inscritos, número recorde, e pode ser a maior entre os países presentes nesta edição do evento. Um dos sinais do crescente interesse do setor produtivo na Conferência veio do setor industrial: pela primeira vez, a Confederação Nacional da Indústria terá um estande próprio durante a COP, para atrair as atenções dos estrangeiros.

“A presença de algumas empresas parceiras na COP nos dá uma ideia bem interessante”, afirma Roberto Muniz, diretor de Relações Institucionais da CNI. Ele cita, por exemplo, a confirmação de participação de companhias como Vale, Suzano, Marfrig, JBS e Latam. “Muitas vezes, pensa-se que a indústria é a chaminé, é a carbonização. Mas o Brasil tem feito um esforço muito grande para que essa agenda (de descarbonização) fique viva. Temos alguns setores em que o Brasil já coloca iniciativas para discussão no mercado internacional, como o mercado de cimento, de papel e celulose”, diz o representante da CNI.

Mercado de carbono

Na área de comercialização de crédito de carbono, a expectativa das empresas é que sejam aprovadas as regras que guiarão o mercado de venda entre o setor privado e os países. Recomendações para esse mercado já foram feitas, mas elas precisam de um aval final.

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Também é esperado que os países se comprometam com metas de redução de carbono mais agressivas para impedir que a elevação da temperatura média do planeta fique acima de 1,5ºC. Se isso ocorrer, companhias de todo o mundo terão de adotar, também, medidas mais severas para reduzir suas emissões, o que pode levá-las a recorrer ao mercado de carbono. “Isso pode alavancar o setor”, diz Janaina Dallan, sócia da Carbonext, empresa que desenvolve e monitora projetos de carbono.

Para a diretora de sustentabilidade Natura &Co América Latina, Angela Pinhati, qualquer medida que impulsione o mercado de carbono pode ajudar as empresas no controle de emissões feitas por seus fornecedores - um dos maiores desafios do mundo corporativo na área de sustentabilidade. “Na Natura, temos o compromisso de descarbonizar 42% do escopo 3 (que engloba fornecedores) até o fim da década, com a priorização da aquisição de créditos em projetos na Amazônia, prioritariamente das comunidades agroextrativistas da nossa rede de relacionamento, mostrando que é possível conciliar conservação e prosperidade econômica.”

Na COP, um grupo de grandes empresas brasileiras irá lançar pilares da Iniciativa Brasileira para o Mercado Voluntário de Carbono. O projeto, liderado pela Mckinsey, é uma tentativa de o setor privado prevenir fraudes na comercialização de crédito de carbono e firmar as práticas de integridade para o funcionamento deste mercado no Brasil, o que pode alavancar os investimentos na área.

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“Integridade é fundamental nesse mercado”, afirma Henrique Ceotto, líder de sustentabilidade no Brasil da Mckinsey. Segundo ele, uma parte da integridade pode vir do governo, mas reformas estruturantes são lentas e o setor privado busca caminhos para avançar enquanto isso.

A iniciativa é patrocinada por Amaggi, B3, Bayer, Dow, Equinor, Itaú, Natura, Rabobank, Systemica e Vale. Durante a COP-28, será lançado o Conselho Brasileiro do MVC que fará a governança deste mercado voluntário, uma organização guarda-chuva para apoiar o desenvolvimento do setor. Também será lançado o repositório nacional de projetos, um banco de dados voluntário para compilar todos os projetos de crédito de carbono e otimizar processos de diligência sobre cada uma das iniciativas.

“O mercado de carbono regulado no Brasil pode ser um acelerador do mercado voluntário. É um mercado que pode chegar a US$ 200 bilhões em 2050. O Brasil tem uma competência relevante e pode ser um mercado de US$ 70 bilhões para o Brasil em 2050″, afirma Ceotto.

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