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Financiando a busca de um negócio

Private equity para empreendedores jovens, brilhantes e inexperientes

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Por Redação

Em 2007, Lucas Braun e Ryan Robinson concluíram seus estudos na Stanford Graduate School of Business com uma sensação de “invencibilidade profissional” tão grande que resolveram não voltar para seus antigos empregos — numa consultoria e num fundo de hedge, respectivamente. Em verdadeiro ato de fé, apostaram todas as fichas em si mesmos.

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Os dois eram jovens — tinham ambos 32 anos — e nunca haviam administrado um negócio, mas conseguiram convencer um grupo de investidores a bancá-los por 21 meses enquanto procuravam uma empresa para comprar. Passado algum tempo, descobriram a OnRamp, uma companhia texana de capital fechado, onde assumiram os cargos de CEO e de presidente do conselho. Depois de uma série de cisões (spin-offs) e aquisições, a companhia hoje oferece computação em nuvem para empresas que lidam com informações sensíveis. Nos últimos sete anos, segundo Braun e Robinson, o faturamento cresceu entre 30% e 35% ao ano.

Os dois executivos são produto de um nicho do setor de private equity, em que se desenvolve a chamada “busca financiada” (funded search),? um nicho tão pequeno, na verdade, que são poucos, mesmo entre os investidores de private equity (que compram participações em empresas), que o conhecem. Mas a escola de negócios de Stanford, que nos anos 80 ajudou a formar os primeiros veículos de investimento que atuam nesse modelo, apelidados de “fundos de busca” (search fund), e que desde 1996 faz um acompanhamento sistemático do segmento, informa que nos últimos dois anos eles proliferaram. Em 2015, foram criados mais de 40 novos fundos de busca, o dobro de 2009. Nesse mesmo período, a quantidade de aquisições triplicou, chegando a mais de 15 por ano.

Os empreendedores à frente dos fundos? geralmente jovens recém-saídos de algum dos programas de MBA oferecidos pelas principais universidades americanas levantam cerca de US$ 400 mil em “dinheiro pequeno” junto a investidores individuais, que adquirem cotas de cerca de US$ 40 mil cada. O fundo assim criado sai em busca de um negócio de crescimento acelerado e margens elevadas, com valor estimado entre US$ 5 milhões e US$ 20 milhões. Uma vez concluída a compra, realiza-se nova rodada de captação, em que pode haver a entrada de novos investidores e a contratação de empréstimos junto a bancos, para que a empresa adquirida possa realizar novos investimentos e aquisições. O empreendedor permanece no comando da companhia até ela ser novamente vendida, o que acontece, em média, seis anos após o início das buscas.

Os retornos são muito bons, alcançando, em média, 8,4 vezes o total do montante investido, com uma taxa interna de retorno de 36,7%. Segundo analistas, é um desempenho acima da média registrada pelo setor de private equity como um todo. Na hora de vender o negócio, se as metas tiverem sido atingidas, o profissional que montou o fundo fica com uma participação de 30%. Nada mal para quem não pôs um centavo do próprio bolso no negócio.

Há investidores injetando escala na coisa. O fundo Pacific Lake Partners, de Boston, por exemplo, cujos investimentos se concentram em buscas financiadas, instrui o empreendedor sobre os setores de atividade e as regiões de sua preferência. Timothy Bovard, um especialista no segmento, fundou em 2015 uma incubadora Search Fund Accelerator, que, em troca de fatias acionárias, oferece capital e orientação para jovens empreendedores interessados no modelo. E práticas bem-sucedidas em outras áreas do setor de private equity vêm sendo crescentemente adotadas. Mas os fundos de busca jamais dão origem a portfólios de empresas. O tempo passado à procura de um negócio para comprar acaba gerando um compromisso visceral do empreendedor com o desempenho da companhia adquirida.

Durante algumas décadas, o modelo foi exclusividade dos EUA e do Canadá. Nos últimos tempos, porém, alguns programas de MBA europeus vêm incluindo em seu currículo estudos de caso sobre a busca financiada, despertando o interesse de jovens intrépidos o bastante para se lançar no empreendedorismo. É bem verdade que não faltam motivos para cautela. Cerca de 25% das buscas são infecundas, e em quase um terço das aquisições, o tiro acaba saindo pela culatra. Ainda assim, as chances de sucesso são maiores do que se a pessoa for começar um negócio do nada.

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© 2016 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.

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