"A Argentina tem três meses para evitar o cartão vermelho." Com estas palavras, sem sutilezas, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, enviou um recado à presidente Cristina Kirchner, indicando que o governo argentino tem até dezembro para normalizar o polêmico índice de inflação elaborado pelo organismo oficial, o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec). Há suspeitas de que o índice é manipulado pelo governo Kirchner desde janeiro de 2007. De lá para cá, a inflação oficial tem variado entre um terço à metade do cálculo elaborado pelos economistas independentes. Enquanto o governo sustenta que a inflação acumulada em 12 meses é de 9,9%, a média das principais consultorias econômicas do país indica que a alta foi de 23,24%. Simultaneamente, as estimativas de sindicatos e associações dos consumidores elevam o índice para mais de 25%. "A Argentina é boa no futebol e com certeza entende do que se trata", disparou Lagarde. "Tínhamos de escolher entre o cartão amarelo e o cartão vermelho... escolhemos o amarelo e demos três meses mais antes da declaração de censura à Argentina."Inédito. Caso o governo argentino ignore o prazo dado pelo FMI, o país seria "censurado", sanção que nunca antes foi aplicada a um país-membro do Fundo. Posteriormente, a Argentina poderia sofrer uma suspensão de sua capacidade de usar os recursos gerais do FMI. Além disso, o organismo poderia suspender os direitos de votação da Argentina no Fundo.Na semana passada o FMI, em linguagem diplomática, havia pedido à Argentina que aplicasse as medidas necessárias, "sem mais demoras", para regularizar a medição da inflação, já que o índice perdeu toda a credibilidade. Em 2011, o governo Kirchner e o FMI concordaram em colaborar para definir um novo sistema de estatísticas para o Indec. Mas, apesar das promessas, o Ministério da Economia da Argentina jamais avançou nesse trabalho. Além disso, em agosto concluiu o prazo de 180 dias concedido pelo Fundo para que o governo argentino aperfeiçoasse seu método de medição. No dia 18, o FMI concedeu um prazo adicional, até o dia 17 de dezembro.A relação da Argentina com o Fundo está em permanente estado de tensão desde a posse do presidente Nestor Kirchner em 2003. Com frequência Kirchner acusava o FMI de ter sido o responsável pela "decadência econômica" do país.Cristina, ao tomar posse em 2007, ensaiou em algumas ocasiões uma aproximação com o Fundo. No entanto, seu governo alternou esses acenos com duras críticas. Cristina ocasionalmente deixa claro que seu governo não aceitará as "receitas" do organismo internacional.