PUBLICIDADE

Publicidade

Fundo para investidores mais ricos perde atratividade

MP editada pelo governo institui a cobrança semestral de imposto de renda em fundos fechados

Por Jéssica Alves e Ana Neira
Lindenbojm: fundo fechado ainda será usado para planejamentos sucessórios Foto: Felipe Rau/Estadão

Os fundos criados para gerenciar os recursos dos mais ricos podem perder parte do brilho após a publicação da Medida Provisória 806, que iguala a tributação deles com a cobrada de outros produtos do setor. A MP, se aprovada pelo Congresso e sancionada até o fim do ano, como quer o governo, vai instituir a cobrança semestral de imposto de renda sobre esses fundos, acessíveis apenas para famílias com patrimônio acima de R$ 10 milhões. 

PUBLICIDADE

Na prática, sem a vantagem da tributação, especialistas avaliam que os gestores das grandes fortunas serão pressionados a garantir retornos que façam herdeiros, matriarcas e patriarcas esquecerem do imposto. Caso contrário, avaliam, esses fundos exclusivos perdem sua funcionalidade.

Para Alamy Candido, sócio do Candido Martins Advogados, ainda é cedo para traçar novas estratégias dentro do fundo ou pensar em um produto que una as regras específicas que essa modalidade tem com a vantagem da tributação. No entanto, o especialista afirma que os investidores terão de redobrar a atenção e passar a calcular os resultados na ponta do lápis. 

“É muito provável que (esses fundos) deixem de existir, porque têm um custo (taxa de administração) relevante, colocando na mesma vala investimentos de R$ 10 mil reais e R$ 10 milhões. O natural é que o investidor vá para o que tem rentabilidade melhor.”

Apesar do baque com a tributação, Alexandre Gottlieb Lindenbojm, presidente da gestora Wright Capital, acredita que o fundo exclusivo ainda é fundamental para planejamento sucessório de famílias ricas. Em fundos abertos, não é possível restringir o resgate do dinheiro, enquanto no fundo fechado é possível controlar a amortização. “Se quiser que o herdeiro tenha acesso à sua parcela do patrimônio, essa é a melhor forma.” 

Saídas. Na avaliação da especialista em finanças e sócia da BSG DuoPrata, Betty Grobman, os gestores precisarão adotar estratégias para convencer seus clientes de que vale a pena manter seus fundos exclusivos. “Essa MP está matando um produto. A partir de agora, o investidor terá de ser convencido de que deve mantê-lo. Reduzir taxas de performance ou de administração podem ser soluções interessantes”, comenta. 

De olho nas oportunidades do planejamento sucessório, a advogada Márcia Setti, sócia do escritório PLKC Advogados, estruturou o chamado fundo “conta-gotas”. O produto é um fundo exclusivo em que há um valor pré-fixado a ser entregue aos herdeiros de um milionário. 

Publicidade

A advogada Márcia Setti, sócia do escritório PLKC Advogados, vê bom cenário para esse tipo de fundo nos próximos anos. Foto: Elaine Massaini

Qualquer mudança apenas pode ser feita com autorização do guardião do fundo, que controla a preservação do patrimônio. “Quem opta por esse tipo de fundo não o faz por questões fiscais, mas para salvaguardar os recursos. É uma opção atraente para a sucessão, garantindo controle e manutenção do patrimônio para as próximas gerações”, define.

Desde 2010, o escritório já criou quatro desses fundos. “Ainda vejo bom cenário para esse tipo de fundo nos próximos anos, justamente pela diversificação”, diz Márcia. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.