Os fundos estrangeiros que se reuniram nesta quinta-feira, 9, com o vice-presidente Hamilton Mourão colocaram cinco principais questões à mesa, todas envolvendo o clima e o desmatamento, assuntos que hoje estão pressionando o governo brasileiro sob a ameaça de retirada de investimentos do País. Em teleconferência, dez fundos estrangeiros solicitaram que o Brasil reduza suas taxas de desmatamento, demonstre esforços para cumprir o compromisso estabelecido com a Lei do Clima e aplique o Código Florestal do Brasil.
Além disso, a lista trazida pelos fundos trouxe a necessidade do Brasil dar acesso público aos dados do País relacionados ao desmatamento, cobertura florestal, posse e rastrealidade de cadeias de cumprimento de commodities.

Por fim, solicitaram que as agências brasileiras tenham capacidade para cumprir a legislação ambiental e de direitos humanos, de forma a conseguirem cumprir seus mandatos com eficácia e para que consigam avançar em projeto de lei para a proteção de florestas. Os fundos foram ainda enfáticos ao pedirem a prevenção de "incêndios nas áreas florestais ou nas proximidades, a fim de evitar a repetição dos (incidentes) de 2019".
Além do vice-presidente, participaram da reunião o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Entre os fundos estavam o britânico Legal and General Investment Management, os suecos Nordea Asset Management, SEB Investment Management e AP2 Second Swedish National Pension Fund, os noruegueses Storebrand Asset Management e KLP, o holandês Robeco e o japonês Sumitomo Mitsui Trust Asset Management.
Em nota, o presidente do fundo Storebrand, Jan Erik Saugestad, disse que os fundos ficaram "animados" pela resposta inicial do governo brasileiro e com o diálogo na reunião desta quinta. A nota pontua que, a partir de agora, os fundos aguardam uma continuidade das discussões e os resultados em relação aos assuntos propostos.
"É somente por meio da colaboração entre governos, empresas e investidores que podemos obter as mudanças necessárias. Isso marca um começo. Estamos convencidos de que sustentabilidade e desenvolvimento econômico andam de mãos dadas. Como instituições financeiras, vemos o desmatamento e os impactos associados à biodiversidade e às mudanças climáticas como riscos sistêmicos, com potencial para impactar negativamente os retornos. Atingir uma estrutura regulatória consistente, que a longo prazo protege a floresta é, portanto, do melhor interesse das empresas e dos investidores", citou Saugestad.
O executivo lembra que os fundos têm dever fiduciário e que precisam agir com o olhar no longo prazo. "Reconhecemos o papel crucial que as florestas tropicais desempenham no combate às mudanças climáticas, protegendo a biodiversidade e assegurando serviços ecossistêmicos. Continuaremos a monitorar os desenvolvimentos no Brasil para avaliar nossa exposição a riscos financeiros decorrentes do desmatamento", disse.
O presidente da gestora norueguesa disse ainda que o interesse dos fundos era de entender o posicionamento do Brasil em relação à proteção do seu "capital natural", em especial de sua floresta tropical.
Pressão
A relação do Brasil com investidores por conta da Amazônia vem se deteriorando desde o ano passado. No dia 23 de junho, um grupo formado por quase 30 fundos de investimento com US$ 3,7 trilhões exigiu que o Brasil freie o crescente desmatamento no País. Na terça-feira, dia 7, foi a vez de cerca de 40 empresários brasileiros enviaram carta ao vice-presidente Hamilton Mourão, que comanda o Conselho Nacional da Amazônia Legal, dizendo estar preocupado com a repercussão da imagem negativa do País no exterior.