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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Futuro do euro está nas mãos de Vladimir Putin

Moeda está numa encruzilhada entre recessão moderada (com o gás russo) e severa (sem gás)

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Na semana talvez mais importante do ano para o euro, o seu destino está nas mãos do presidente russo Vladimir Putin, e não de quem normalmente poderia ter maior influência sobre a moeda: Christine Lagarde, que comanda o Banco Central Europeu (BCE), cuja reunião de política monetária acontece amanhã.

Pois é justamente amanhã que está prevista para acabar a manutenção do gasoduto Nord Stream 1, cujo fornecimento de gás natural foi interrompido no último dia 11 para essa operação. Paira no ar a dúvida se Putin vai ordenar a retomada do fornecimento do produto ou se cortará de vez o suprimento para os países europeus, em particular a Alemanha, maior comprador do gás russo.

Vladimir Putin, presidente da Rússia; se o fornecimento de gás russo não for retomado, há quem aposte que o euro poderá cair abaixo de US$ 0,90 ou, até mesmo, testar a cotação mínima histórica de US$ 0,82, de outubro de 2000.  Foto: Sergei Savostyanov/EFE

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Se desligar de vez o gasoduto, Putin certamente jogará a Europa para o pior dos mundos: recessão com uma inflação mais alta do que está. É que, sem o gás russo, é inevitável a imposição de um racionamento, o que, segundo analistas, poderá reduzir o PIB da Zona do Euro em cinco pontos porcentuais, ao afetar a produção industrial. Sem contar que os preços de energia devem disparar até o próximo inverno europeu.

Nesse cenário, o euro deve cair mais ante o dólar. Na semana passada, a moeda chegou pontualmente a valer menos do que US$ 1, algo que não acontecia há 20 anos, mas conseguiu se manter ao redor ou pouco acima da paridade. Em 2022, o euro acumula queda de 10%. Se o fornecimento de gás russo não for retomado, há quem aposte que o euro poderá cair abaixo de US$ 0,90 ou, até mesmo, testar a cotação mínima histórica de US$ 0,82, de outubro de 2000.

Tudo o que Lagarde não precisa agora é de um câmbio fraco para pressionar mais os preços na economia. Em junho, a inflação na Zona do Euro atingiu a taxa anual recorde de 8,6%. Para conter essa escalada, o BCE sinalizou que iria elevar os juros em 0,25 ponto porcentual nesta semana. Mas há relatos de que acabará optando pela alta mais agressiva de 0,50 ponto.

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Mesmo que Putin permita a retomada do fornecimento de gás, ainda que na capacidade reduzida de 40% de antes da manutenção do gasoduto, o euro dificilmente voltará a se valorizar em meio a uma pletora de problemas.

O mais recente é a crise política na Itália, onde o premiê Mario Draghi chegou a pedir demissão, rejeitada pelo presidente italiano. Um voto de confiança do seu governo acontecerá hoje. Se Draghi renunciar, uma nova crise da dívida irá assombrar a Europa. Ou seja, o euro está numa encruzilhada entre recessão moderada (com gás russo) e severa (sem gás). E nas mãos de Putin.

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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