O primeiro gesto de interesse na aproximação dos Estados Unidos ao governo Dilma Rousseff será dado na próxima segunda-feira pelo secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner. Em passagens rápidas por Brasília e São Paulo, em um único dia, Geithner terá a missão de limar boa parte das desavenças entre os dois países em torno da agenda econômico-financeira global e preparar o terreno para a primeira visita do presidente Barack Obama ao Brasil, em março. Com o terreno aplainado, a expectativa do governo americano será dar impulso a discussões sobre acordos bilaterais nas áreas de comércio e de energia renovável.A visita de Geithner ocorrerá dez dias antes da reunião de ministros do G-20, grupo das maiores economias desenvolvidas e emergentes, na França. Nesse contexto, Brasil e EUA acumulam desavenças em torno das medidas americanas adotadas para dar impulso ao crescimento econômico doméstico. Em especial, as que resultam na emissão de volumes expressivos de divisa americana - como a compra de títulos públicos do Tesouro pelo Fed ao longo deste semestre.As medidas foram criticadas publicamente no ano passado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e pelo então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, por provocarem a desvalorização artificial do dólar americano e por alimentarem o fluxo de capitais às economias emergentes. Na avaliação da equipe econômica brasileira, esse fluxo adicional resulta na valorização do real e, portanto, na perda de competitividade dos produtos e serviços brasileiros. Além disso, traz riscos por terem um caráter mais volátil.Para Mantega, essa situação resume-se na expressão "guerra cambial". No Fórum Econômico de Davos, na semana passada, Geithner atribuiu esse descompasso nas economias emergentes a suas dificuldades em realizar reformas capazes de aumentar a competitividade de alguns de seus setores. Essa divergência estará no topo da agenda de ambos, em Brasília, assim como os esforços de ambos os países na redução do déficit fiscal.Visibilidade. "Essa conversa dará uma visibilidade maior ao diálogo entre Brasil e EUA na área econômico-financeira. Trata-se de algo que as conversas em corredores e no cafezinho, como as que têm ocorrido frequentemente entre Geithner e Mantega, não possibilitam", resumiu um diplomata brasileiro.De acordo com o Tesouro dos EUA, Geithner fará uma primeira parada em São Paulo, onde se encontrará com líderes empresariais e economistas brasileiros. Em seguida, ele visitará a Fundação Getúlio Vargas para um debate com os estudantes. Em Brasília, será a primeira visita de uma autoridade do primeiro escalão do governo Obama desde a posse da presidente Dilma Rousseff. A secretária de Estado, Hillary Clinton, compareceu à cerimônia, porém não manteve encontros bilaterais.