No contexto da realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-26), que ocorre em Glasgow, na Escócia, de 31 de outubro a 12 de novembro, o Chapter Zero Brazil divulga, nesta quarta-feira, 3, uma declaração que convoca os membros de conselhos de administração brasileiros a colocarem a crise climática no centro de sua estratégia de negócio.
O Chapter Zero Brazil é o capítulo brasileiro da rede global Climate Governance Initiative (CGI) e foi lançado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) em março deste ano. A CGI foi criada em 2019, como desdobramento de um grupo de trabalho do Fórum Econômico Mundial, e busca fomentar a atuação de executivos em questões relacionadas ao meio ambiente. A rede global hoje mobiliza mais de 100 mil conselheiros em cerca de 20 países.
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A declaração divulgada pelo Chapter Zero Brazil endossa o posicionamento divulgado globalmente na terça-feira, 2, pela CGI, e adiciona um contexto brasileiro ao documento. O texto cita os impactos das ações humanas no clima, que já são vistos em todas as regiões do mundo, e afirma que a crise climática é a maior ameaça à estabilidade financeira mundial. Também chama os conselheiros a atuarem na transição para uma economia mais sustentável com base em direcionamentos de governança climática.
"Tendo em vista a COP-26 e o cenário favorável à adoção de compromissos políticos mais ambiciosos, este é um momento crucial para os conselhos se engajarem no enfrentamento dos impactos climáticos, conduzir compromissos de longo prazo e traduzi-los em ações práticas e imediatas", diz o texto, que ainda destaca a necessidade de as empresas considerarem os efeitos dessa transformação em trabalhadores, fornecedores e na comunidade.
“O que estamos fazendo é pedir que os conselheiros comecem a olhar para a própria casa”, diz Valéria Café, diretora de Vocalização e Influência do IBGC, instituto que engloba o Chapter Zero Brazil. “Porque falamos em mudanças climáticas e o conselheiro pergunta o que é preciso fazer. Precisamos deixar isso mais claro. Comece olhando como é sua matriz energética, uso da água, como a empresa trata a biodiversidade no espaço onde está, como trata as pessoas, como cuida do entorno. E como você transforma isso culturalmente dentro da sua organização, ensinando inclusive os seus funcionários e exigindo da sua cadeia de fornecedores o mesmo que você faz”, explica.
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Lina Pimentel, coordenadora do Chapter Zero Brazil, destaca que empresas de todas as áreas devem ter seus conselheiros engajados nas questões relacionadas ao clima, devido ao risco que elas representam. “Organizações dos mais amplos segmentos, indústria, varejo, serviços, energia, etc. Todos os conselheiros em todas as indústrias devem se educar e se engajar sobre o tema e, naturalmente, impactar as empresas onde exercem suas funções”, afirma. “E eles têm que agir no tema climático sob uma ótica de risco. As mudanças climáticas têm que ser um item da matriz de risco das empresas.”
No Brasil
Outro tema abordado na declaração divulgada pelo Chapter Zero são os efeitos climáticos especificamente sobre a América do Sul e o Brasil, e é apontada a possibilidade de que as consequências do aquecimento global sejam percebidas na agricultura, nos ecossistemas e até mesmo no aumento do nível do mar. O texto traz recomendações direcionadas aos conselheiros brasileiros, entre elas que a crise climática seja incluída de forma prioritária nas agendas, que haja esforço coletivo para a transição a uma economia de baixo carbono e que conselheiros e executivos busquem formação técnica, legal e institucional continuada para o endereçamento das questões climáticas.
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Para Lina, do Chapter Zero, é importante que as empresas se posicionem publicamente e reafirmem seus compromissos para combater o aquecimento global, como vem ocorrendo com várias organizações brasileiras. Segundo ela, são esses posicionamentos, muitas vezes, que possibilitam os avanços em relação ao tema no País.
“As empresas estão exercendo hoje um papel de advocacy [prática que visa influenciar tomadores de decisões sobre alguma causa] muito importante, porque estão dizendo publicamente o que elas gostariam de ter como políticas públicas. Vemos as empresas se posicionando publicamente em direção à sustentabilidade. Esses compromissos assumidos pelo Brasil não teriam acontecido se o governo não tivesse sentido o aval das empresas, porque, no final das contas, são as empresas falando ‘eu consigo, eu vou reduzir as minhas emissões, eu vou realizar as mudanças necessárias’”, afirma. Ela menciona que o advocacy também está mais forte por causa das ONGs, que hoje estão muito mais preparadas e têm uma atuação madura.
A coordenadora do Chapter Zero Brazil ainda destaca a necessidade da aprovação de leis e regulamentações relacionadas ao tema, para que o avanço da agenda no País não fique vulnerável a mudanças políticas. “Queremos que a conversa sobre aderência aos compromissos climáticos independa de governo. Uma vez que a regulação seja alterada para atingirmos esses objetivos para combater a crise climática, uma vez que as empresas e a sociedade civil estejam atuantes nisso, independentemente de questões políticas e mudanças de governos, a gente vai estar indo para a direção correta. Então é muito importante que esses movimentos regulatórios acompanhem essas tendências. É para isso também que estamos trabalhando.”
“Fazendo um paralelo com a pandemia, que teve tantas consequências, foram desenvolvidas algumas vacinas”, diz Valéria, do IBGC. “Mas, se efetivamente ocorrer esse processo de aumento de temperatura, que todos os cientistas indicam que vai ocorrer, não vai ter vacina. Para a gente poder reverter, vai demorar no mínimo dez anos. E quem vai sofrer é o ser humano. Vemos que existe um movimento de empresas e organizações da sociedade civil trabalhando juntos para combater a crise climática. E o que a gente quer é trazer mais gente, mais empresas, e mais entidades para essa luta”, declara.
A declaração divulgada nesta quarta pelo Chapter Zero Brazil tem apoio de outras entidades: Instituto Capitalismo Consciente Brasil, Sistema B Brasil, Rede Brasil do Pacto Global e Comissão Brasileira de Acompanhamento do Relato Integrado (CBARI). O texto pode ser lido na íntegra neste link.