Maioria das empresas no Brasil ainda não definiu a atenção que dará à COP-30, indica pesquisa

A empresa de relações públicas Fundamento ouviu 518 executivos das áreas de ESG, sustentabilidade e atividades afins de empresas de 23 diferentes setores com atuação no País

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Foto do author Luis Filipe Santos
Atualização:

As empresas brasileiras têm expectativas para a COP-30, mas ainda não estão se preparando para o evento, apontou pesquisa da empresa de relações públicas Fundamento. A COP (conferência das partes, na sigla em inglês) é o principal evento anual para discutir as mudanças climáticas, e a sua 30ª edição será realizada no Brasil, em Belém, capital do Pará, em 2025.

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O evento é visto como uma chance importante para o Brasil projetar liderança na pauta ambiental global, o que se refletiu na escolha da cidade-sede, uma das principais capitais amazônicas. Essa importância também é percebida pelas empresas: 72% dos executivos ouvidos acreditam que sediar o evento permitirá ao País uma participação mais efetiva.

A Fundamento ouviu 518 executivos das áreas de ESG (Ambiental, Social e Governança, na sigla em inglês), sustentabilidade e atividades afins de empresas de 23 setores da economia. Todas as empresas ouvidas operam no Brasil, e 79% tem sua matriz no País. As companhias ouvidas tem faturamento anual acima de R$ 360 mil, sendo que 61% delas faturam acima de R$ 4,8 milhões por ano.

No entanto, apesar de perceber a oportunidade, a maioria das companhias ouvidas ainda não se programou para participar do evento. Apenas 31% já decidiu participar. Desse total, 32% ainda não sabe como fará e 35% se programou apenas para assistir a palestras (veja gráfico mais abaixo).

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Belém receberá líderes de países e empresas do mundo todo em novembro para debate sobre as mudanças climáticas Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Segundo as autoras da pesquisa, as razões para essa falta de preparação podem ser a frustração com as discussões das COPs anteriores, uma falta de preparo por parte dos profissionais, a pouca prioridade dada à pauta ambiental internamente e a falta de estrutura das companhias — no que a participação em confederações setoriais pode ajudar.

De acordo com o levantamento, 68% das empresas nunca esteve em uma COP, o que pode ser explicado pelos altos custos, incluindo para viajar a países como os Emirados Árabes Unidos e o Azerbaijão, onde foram realizadas as edições 28 e 29, respectivamente. Contudo, por ser uma COP no Brasil, é esperado uma maior participação e interesse por parte do setor privado. “As empresas são atores sociais importantes nos processos produtivos, e esperam que o Brasil faça algo para puxar as discussões na COP”, afirma Adriana Panzini, líder de análises da Fundamento e responsável técnica pela pesquisa.

No relatório, ao avaliar o impacto das COPs, há uma quantia relevante de respondentes que consideram que suas empresas não serão afetadas. No total, a maior parcela (25%) considera que terá de se adaptar a novas regulações, mas uma quantidade quase tão grande quanto (24%) diz que não sofrerá impacto nenhum. Além disso, 21% viram um impacto positivo, com possibilidades de negócios, e 7% novos projetos de sustentabilidade. Outros 13% não souberam avaliar.

A existência de uma parcela de 37% que não se preocupa com os resultados das COPs mostra uma falta de preparo por parte dos profissionais ligados à sustentabilidade, diz Marta Dourado, fundadora e CEO da Fundamento. “Como quase metade dos profissionais pode achar que o que é decidido na COP não impacta nos trabalhos deles? Lá são decididas regulações que chegam depois. É preciso estar atento aos temas.”

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Caminhos para participar

Na pesquisa, algumas empresas manifestaram dificuldade em saber como marcar presença no evento, além do problema do custo. Um primeiro passo pode ser consultar entidades setoriais como a CNI, ou câmaras de comércio, como a Amcham, ou organizações como o Sebrae.

A participação em COPs é vista como benéfica mesmo que seja apenas para assistir palestras porque permite aos executivos acompanhar as discussões, conhecer as novas regulações que surgirem e também saber quais tendências de sustentabilidade irão afetar seus negócios.

“Estando lá, começa a ter contato, conhecer tendências, já é um ganho. Estamos hoje num patamar onde a grande maioria não faz nada, nem acompanha as discussões”, menciona Panzini. “Precisa de investimento, mas é o lugar para se estar, para fazer projetos amadurecerem. Pode-se encontrar soluções para problemas, ou vender projetos”, cita Dourado.

Outro ponto importante é que as discussões sobre meio ambiente não podem começar e terminar na COP. As companhias precisam trazer o tema para o dia a dia, das lideranças a todos os níveis hierárquicos, a partir de debates, workshops, palestras e outras formas de transmissão de conteúdo. “A COP é só um fórum, mas essa promoção interna, diária, de engajar os funcionários, tudo isso pode ser feito pelas lideranças”, conclui Panzini.

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