BRASÍLIA - O governo brasileiro segue avaliando a resposta que dará à decisão dos Estados Unidos de sobretaxar as importações de aço e alumínio, e a disposição principal é de tentar avançar numa negociação com a gestão do republicano Donald Trump. Autoridades do Executivo nacional afirmam que, como a decisão do governo norte-americano entra em vigor apenas em 12 de março, a gestão brasileira vai se debruçar em analisar os efeitos da medida e, por isso, não deve se apressar em uma resposta.
A ideia é que a gestão federal continue adotando tom de cautela para evitar atiçar a guerra comercial. No início da tarde, a Presidência brasileira avaliava divulgar uma nota sobre o assunto ainda nesta terça-feira, 11. Porém, optou por adiar a publicação e analisar melhor os impactos tanto para a diplomacia quanto para a indústria.
Como a medida de Trump não foi direcionada especificamente ao Brasil, embora afete o País, há interesse em iniciar tratativas com os americanos, sendo relevante que o País consiga estabelecer os canais com a nova gestão trumpista, assim como a Austrália já avançou nessa direção.
Membros do Poder Executivo brasileiro passaram o dia em reuniões internas para debater qual deve ser a postura do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas em declarações públicas, autoridades já indicaram que não têm pretensão, por ora, de bater de frente com Trump. Essa indicação é também dada por interlocutores.
No início da noite, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) está reunindo as avaliações para levar ao presidente Lula.

As conversas estão focadas no âmbito do MDIC e no Palácio do Itamaraty. Segundo pessoas a par do tema, Lula ainda não se debruçou a fundo sobre o assunto. Nesta terça-feira, 11, por exemplo, o chefe do Executivo participou da abertura do Encontro de Novos Prefeitos e se reuniu com ministros da Junta de Execução Orçamentária (JEO) no final da tarde, mas o tópico principal da conversa foi a peça orçamentária.
Desejo de manter o acordo de 2018
Uma das questões para as quais o governo se volta é entender o espaço para negociar com o governo norte-americano, já que o presidente dos Estados Unidos criticou as exceções abertas em seu primeiro mandato, em 2018.
Naquele ano, para evitar a sobretaxa sobre o aço exportado aos EUA, o Brasil foi um dos países, ao lado da Argentina, que conseguiram acertar uma cota de vendas anual aos americanos, que ficou livre da tarifa superior.
Ao comentar o tema nesta terça-feira, Haddad foi nesta linha. “Eu não sei qual é a disposição do governo americano, nesse momento, negociar, até porque em 2018, se eu não estou enganado, aconteceu de uma sobretaxa ser imposta e depois houve um recuo pouco tempo depois”, disse o chefe da equipe econômica.
Pessoas do setor assinalam, por sua vez, que alguns países já estão negociando com a nova administração. A primeira notícia nesse sentido veio da Austrália.
Segundo a imprensa internacional, após conversar com o primeiro-ministro Anthony Albanese, Trump disse a jornalistas que concordou em considerar isentar o país das tarifas de aço e alumínio em razão do superávit comercial que os EUA têm com a Austrália. O Brasil, assim como os australianos, também é deficitário na balança de trocas com os americanos.
Leia também
Além disso, o País tem outros argumentos para barganhar. Um deles é a forma como a imposição de tarifas maiores ao aço brasileiro irá prejudicar as empresas americanas. No ano passado, as companhias daqui compraram dos Estados Unidos US$ 1,4 bilhão em carvão siderúrgico, matéria utilizada na produção do aço no Brasil.
Um ponto de atenção é o fato de, ao justificar a tarifa de 25%, Trump ter citado o aumento na importação do produto chinês por parte do Brasil. Apesar disso, especialistas do setor dizem acreditar que o republicano poderá ter interesse em conversar com o Brasil devido à posição que ocupa de segundo maior exportador de aço para os Estados Unidos.