O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse hoje que "não existe divisão interna do governo brasileiro" em relação às negociações comerciais internacionais. O ministro afirmou que a coordenação das negociações internacionais "tem que ficar com alguém". Questionado se esse alguém é o Itamaraty, Amorim respondeu que "o presidente Lula já disse isso muitas vezes". Amorim afirmou também: "Quem comanda as negociações internacionais, por ordem do presidente Lula, sou eu, e não o Samuel (Pinheiro Guimarães, secretário-geral do Itamaraty)". O chanceler referia-se a notícias de que o secretário-geral está perdendo poder nas negociações internacionais. "O dia em que tiver que tirar um negociador, tem que tirar a mim", disse o ministro em rápida entrevista na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Pouco antes, durante palestra na entidade no seminário "Negociações Comerciais: a Experiência Internacional", o ministro afirmou que "essas negociações envolvem além "de questões comerciais, aspectos geopolíticos da potência hegemônica". Segundo Amorim, quem lida mais com a economia tende a ver mais o lado econômico, mas essas questões geopolíticas estão associadas aos aspectos comerciais. "Por mais pragmático que sejamos, é evidente que existem também outros aspectos envolvidos", afirmou. O ministro observou também que tem visto vários comentários que o Brasil precisa ser "realista", mas considera que nesses comentários "realismo significa obter 10% ou 15% do que você quer e dar 80% ou 90% do que o parceiro deseja". O chanceler comentou também que o presidente Lula e ele próprio estão preparados para pressões que advêm do surgimento do Brasil como uma nova potência no cenário internacional. Na entrevista, após a palestra, Amorim afirmou que a "versão de que o Brasil está isolado (na Alca) é totalmente falsa". Amorim lembrou que a posiçào do Brasil na reunião da Alca realizada em Trinidad & Tobaggo, na semana retrasada, era a do Mercosul "e dizer que o Mercosul está isolado na Alca é o mesmo que dizer em uma negociação da Ásia a China e a Índia estão isoladas". Adiamento de prazos O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, queixou-se de que ?no Brasil é um problema quando se precisa adiar prazos" das negociações internacionais. Amorim observou que adiar prazos "para os europeus não é problema nenhum e para os americanos também não. Amorim lembrou que depois do lançamento da Rodada de Doha, no fim de 2001, "vários prazos foram sendo postergados", principalmente pela União Européia. Logo após, deu rápida entrevista em que negou divergências no governo brasileiro sobre o tema. No entanto, a palestra do ministro teve vários momentos em que reafirmou posições do Itamaraty contrárias a outras que seriam defendidas internamente pelos ministérios da Fazenda, da Agricultura e do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior. Uma delas é essa questão dos prazos, que os ministérios da área econômica gostariam que fossem cumpridos. Amorim também citou que as negociações comerciais têm também aspectos geopolíticos, além dos econômicos.
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