Governo não vê iminência de tarifas diretas dos EUA sobre Brasil, mas monitora anúncio de Trump

Orientação no governo Lula é de ‘cautela’ devido ao estilo ‘inusitado’ da gestão do presidente norte-americano; produtos como o etanol geram apreensão do lado brasileiro

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BRASÍLIA - Interlocutores do governo brasileiro não veem até o momento a iminência de tarifas diretas do governo norte-americano sobre produtos brasileiros, apesar de o País já ter sido afetado por tarifas implantadas na gestão Trump. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve anunciar novas tarifas recíprocas para países nesta quinta-feira, 13, o que também pode afetar produtos brasileiros.

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Uma pessoa a par das discussões no governo afirmou que, por enquanto, não há sinais diretos e específicos para o Brasil. Dado o estilo inusitado da gestão Trump, o anúncio é monitorado com atenção. A orientação no governo continua sendo de “cautela”.

Embora o Executivo não tenha recebido sinais concretos dos EUA, há produtos que geram apreensão do lado brasileiro. Entre os itens que podem entrar nessa reciprocidade de tarifa está o etanol. Há anos, os Estados Unidos pressionam o Brasil para redução da tarifa de importação aplicada sobre o produto norte-americano, hoje de 18%, e reclamam sobre acesso restrito do biocombustível ao mercado brasileiro. Uma eventual reciprocidade dos Estados Unidos poderia ser aplicada sobre etanol de cana-de-açúcar brasileiro.

Integrantes do governo Lula não veem relação das tarifas aplicadas por Trump, como a taxação de 25% sobre o aço, com eventual pressão sobre o etanol Foto: Alex Brandon/AP

No Brasil, o etanol é feito principalmente à base de cana-de-açúcar, enquanto nos Estados Unidos, o biocombustível é fabricado sobretudo à base de milho. Interlocutores ressalvam, por sua vez, não terem recebido indicações recentes sobre a pauta, tratada como uma demanda permanente dos americanos.

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A tarifa foi zerada no governo Bolsonaro em 2022 e retomada pelo governo Lula. O tema vinha sendo discutido entre as autoridades comerciais no último ano, mas o Brasil pede como contrapartida à redução tarifária o aumento do acesso do açúcar brasileiro ao mercado norte-americano, atualmente limitada a uma cota estipulada anualmente. A indústria sucroenergética local pede ao governo uma “decisão equilibrada” sobre o tema.

Na semana passada, durante audiência no Senado americano, o indicado por Trump ao cargo de representante comercial do país (USTR, na sigla em inglês), Jamieson Greer, foi questionado sobre a tarifa de 18% das exportações americanas de etanol ao Brasil e respondeu que o assunto estava no topo de sua lista de prioridades. O nome de Greer ainda não foi aprovado, e o Brasil aguarda sua confirmação para avançar mais significativamente nas negociações sobre a tarifa do aço.

Integrantes do governo não veem até o momento relação das tarifas aplicadas por Trump, como sobre a taxação de 25% sobre o aço, com uma eventual pressão sobre o etanol, em virtude de terem sido aplicadas para todos os países. Segundo uma pessoa com conhecimento do tema, a avaliação é que as tarifas não foram uma medida deliberada ao Brasil ou um “recado” ao governo brasileiro quanto ao etanol por não terem sidas direcionadas exclusivamente ao País.

Um desses interlocutores lembra, porém, da ligação da atual ministra do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), Brooke Rollins, com o setor de etanol de milho americano. Rollins vem do Texas, Estado do chamado corn belt (cinturão do milho, em inglês), uma das principais regiões produtoras dos Estados Unidos. No país, a indústria local consome mais de um terço da safra doméstica do cereal.

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