Os grandes bancos de capital aberto no País conseguiram consolidar, no segundo trimestre, a tendência vista no período anterior, quando os resultados superaram o gasto com calotes pela primeira vez desde a crise. Estimulados por menores despesas nessa linha e pelo aumento das receitas com serviços, essas instituições entregaram lucros crescentes e um maior vigor no crédito, capitaneado, principalmente, pelas pessoas físicas.
Juntos, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander Brasil tiveram lucro líquido consolidado de R$ 17,808 bilhões de abril a junho, cifra 12,30% superior à vista um ano antes, de R$ 15,857 bilhões. Com ajustes e eventos extraordinários, o resultado combinado do quarteto foi 17% maior, de R$ 16,879 bilhões.
Em um trimestre marcado por um crescimento um pouco mais forte das carteiras de crédito, a despeito de eventos como a greve dos caminhoneiros e os jogos da Copa do Mundo, o motor para os resultados continuou sendo o menor gasto com inadimplência. As despesas com provisões para devedores duvidosos, as chamadas PDDs, encolheram 19,44% no segundo trimestre ante igual intervalo de 2017, para R$ 16,955 bilhões, puxadas, principalmente, por menores gastos por parte de BB e Bradesco. Tanto é que diante do desempenho, ambos decidiram revisar para baixo suas projeções para os gastos com calotes neste ano.
"Estou bastante satisfeito com a redução das provisões (para devedores duvidosos) e com o melhor índice de cobertura que mostra que estamos na trajetória correta e voltamos a ter a menor inadimplência do mercado", disse o presidente do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli, em coletiva de imprensa, nesta manhã.
O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, afirmou que a continuidade da melhora da qualidade de crédito, acompanhada da redução de PDD expandido, deixou o banco confortável para rever seu guidance de PDD para baixo. O banco espera ficar no centro da nova projeção, de R$ 13 bilhões a R$ 16 bilhões.
Todos os quatro grandes bancos entregaram melhores índices de inadimplência no segundo trimestre, considerando atrasos acima de 90 dias. O destaque de queda foi o Bradesco, seguido por BB e Itaú.
Crédito também melhora, mas em ritmo menor
Do lado do crédito, o maior crescimento veio por parte do Bradesco, que além de ter emplacado operações com grandes empresas, como Odebrecht e Suzano, no segundo trimestre, também teve impulso da valorização do dólar ante o real. No comparativo trimestral, considerando a carteira classificada, vieram na sequência Itaú e Santander.
Já o BB, que teve o menor crescimento no período, tem o desafio de cumprir o guidance no ano, de alta de 1% a 4%. Embora esteja alinhado aos seu pares na concessão de recursos às pessoas físicas, a carteira de pessoa jurídica demora mais a retomar. Joga contra o BB o fato de acumular operações de prazo mais longo e estar promovendo ao mesmo tempo uma mudança de mix que prioriza a rentabilidade. Nas operações de capital de giro, por exemplo, o banco tem ofertado empréstimos de prazos mais curtos, de no máximo 12 meses, enquanto que a concorrência tem atuado de forma mais elástica.
Apesar da queda da carteira de pessoa jurídica, o presidente do BB garantiu que espera crescimento "substancial" desse segmento na próxima metade do ano e reiterou o compromisso com o guidace de crédito, de alta de 1% a 4% neste ano. Sobre o impacto das eleições, Caffarelli minimizou qualquer reflexo. "De maneira alguma o período eleitoral abala o banco. Estamos acostumados com a troca de governo de quatro em quatro anos", disse o executivo.
Com o primeiro crescimento em sua margem financeira bruta em seis trimestres seguidos, o BB espera que a linha tenha maior participação no lucro do banco a partir de 2019. "Sabíamos que neste ano o maior direcionador do resultado seria os menores gastos com inadimplência somados ao crescimento de receita e controle de despesas administrativas", acrescentou o vice-presidente do BB, Bernardo Rothe.
O presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, afirmou que os spreads continuam com tendência de queda no País, mas que, a despeito disso, o banco segue confortável com o guidance para a margem com clientes - que reflete as operações de crédito sensíveis a spreads.
Em termos de rentabilidade, o Santander roubou novamente a cena ao entregar retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) de 19,5%, ante 19,1% obtido de janeiro a março. Segundo os analistas do BB Investimentos Kamila Oliveira e Carlos Daltozo, a rentabilidade do banco deve superar a marca histórica dos 20% nos próximos trimestres. Apesar de admitir que há espaço para continuar melhorando o indicador, o presidente do Santander, Sérgio Rial, não quis detalhar a expectativa do grupo para o retorno.
Enquanto isso, o BB segue debruçado em equiparar sua rentabilidade ao dos pares privados. No segundo trimestre, o banco melhorou seu indicador, que foi a 13,80% ao final de junho, ante 13,20% em março. O Itaú seguiu na liderança em rentabilidade. O retorno recorrente sobre o patrimônio líquido médio anualizado do banco foi a 21,6% no segundo trimestre, contra 22,2% nos três meses anteriores. Já a rentabilidade do Bradesco teve queda de 0,2 ponto porcentual, para 18,4%, na mesma base de comparação.
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