Na mais importante etapa de sua turnê pela Europa, o primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, propôs um programa de quatro anos de reformas econômicas e administrativas em Atenas.
A oferta é uma concessão feita pelo governo radical de esquerda em troca da renegociação da dívida de € 316 bilhões, que vem sendo discutida com a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu (BCE).
A proposta de Tsipras foi feita durante a viagem a Paris, onde se encontrou com o presidente da França, François Hollande, e a Bruxelas, onde se reuniu com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
O plano de reformas, que seria implementado entre 2015 e 2018, ainda não é oficial, mas vem sendo discutido nos bastidores. Ao contrário das medidas de austeridade exigidas pelos credores públicos internacionais - Bruxelas, BCE e o Fundo Monetário Internacional (FMI) -, que contribuíram para uma depressão de 24% na Grécia em cinco anos, Tsipras pretende relançar o crescimento por meio da revalorização do salário mínimo, de pensões e de aposentadorias e pela criação de programas de renda mínima, medidas avaliadas em cerca de € 12 bilhões.
Para compensar o rombo no orçamento, que já enfrenta déficit de 4,5% do Produto Interior Bruto (PIB), Tsipras promete reformas que ampliem o combate à corrupção, a fraude fiscal e que tornem a administração pública mais eficiente.
Até que as medidas sejam discutidas, em paralelo à renegociação das dívidas, um “acordo transitório” entraria em vigor ao longo de 2015. “Nós queremos dialogar, e não somos uma ameaça para a Europa”, afirmou o primeiro-ministro, em pronunciamento ao lado de Hollande, no Palácio do Eliseu. Tsipras aproveitou a oportunidade para pedir que a França “desempenhe um papel preponderante, de fiador, de protagonista”.
Hollande respondeu prometendo “solidariedade”, desde que a Grécia “respeite as regras europeias que se impõem a todos”. O chefe de Estado francês exortou ainda ao “diálogo entre a Grécia e seus parceiros europeus e internacionais”, com “transparência, serenidade e vontade de chegar a um acordo”. “Chegou a hora de encontrar uma solução de longo termo para a Grécia”, pregou.
Resistência. O maior problema para o entendimento é, porém, a resistência do presidente do BCE, Mario Draghi, de aceitar a postergação do pagamento de € 15 bilhões em títulos da dívida soberana grega, parte dos € 25 bilhões com vencimento em 2015.
Pela proposta de Atenas, esses títulos seriam trocados por outros com vencimento em curto prazo, em um total de € 25 bilhões - valor que permitiria manter o pagamento das dívidas e, ao mesmo tempo, financiar as medidas sociais urgentes pretendidas por Tsipras.
O tema foi objeto de discussões ontem, em Frankfurt, onde o ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, encontrou-se com Mario Draghi. As discussões entre as duas partes, contudo, prosseguirão nas próximas semanas. O objetivo de Atenas é chegar a um acordo definitivo em maio, mas antes disso uma decisão terá de ser tomada quanto à transferência ou não de € 7 bilhões para o governo grego ainda em fevereiro. Trata-se de um valor relativo à última parcela dos planos de socorro de € 240 bilhões concedidos pela Comissão Europeia, pelo BCE e pelo FMI entre 2010 e 2011.
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