Com guerra comercial EUA-China, dólar atinge maior valorização frente à moeda chinesa desde 2008

Moeda americana ultrapassou 7 yuans. Autoridade monetária chinesa fala em 'protecionismo' e 'embate tarifário' com Trump

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Por Redação
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SÃO PAULO - A escalada das tensões comerciais entre Estados Unidos e China fez o dólar ultrapassar, pela primeira vez desde 2008, a barreira de 7 yuans nesta segunda-feira, 5.  A marca sinaliza que Pequim está disposta a tolerar mais fraquezas cambiais diante das disputas com o governo americano.

Trump anunciou novas tarifas à China na semana passada, intensificando a disputa comercial Foto:

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A valorização do dólar em relação à moeda chinesa vem em meio a críticas do presidente americano, Donald Trump, de que a China desvaloriza sua moeda. O republicano tem se mostrado insatisfeito com a postura de Pequim nas negociações comerciais entre as duas maiores economias do mundo.

Na semana passada, Trump anunciou que irá impor tarifas de 10% sobre US$ 300 bilhões em produtos chineses. De acordo com ele, a alíquota tarifária poderá ser elevada para além de 25%. Em seu perfil no Twitter, no último sábado, o americano disse que "as coisas estão indo muito bem para a China", já que o país asiático pagava dezenas de bilhões de dólares ao desvalorizar o yuan e injetar dinheiro na economia.

Em comunicado, a autoridade monetária da China disse que o recuo do yuan é resultado do protecionismo e do embate tarifário travado com os EUA, ressaltando que a moeda chinesa permanece forte contra uma cesta de outras moedas. O Banco Popular da China (PBoC) disse ter confiança e capacidade de manter o yuan em um equilíbrio razoável e apontou que pretende reprimir qualquer especulação contra a divisa.

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Durante o fim de semana, o Wall Street Journal revelou que as novas tarifas foram discutidas por Trump com autoridades americanas, como o representante comercial, Robert Lighthizer, o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, e o diretor do Conselho de Comércio da Casa Branca, Peter Navarro. Apenas Navarro teria se demonstrado a favor das novas barreiras comerciais.

As tarifas, contudo, teriam gerado dúvidas no governo chinês sobre a continuidade das negociações com os EUA. Além disso, a agência de notícias Bloomberg informou que Pequim teria pedido a empresas estatais que parassem de comprar produtos agrícolas americanos.

A marca de 7 yuans por dólar pode aumentar a ansiedade e complicar ainda mais as conversas entre EUA e China, segundo os economistas Gaurav Garg e Lu Sun, do Citi. De acordo com eles, embora a queda do yuan neste momento seja diferente da desvalorização de agosto de 2015, "a movimentação do USDCNY além de 7 deverá pesar no apetite por risco mais amplo e pode enfraquecer outras moedas emergentes da Ásia". 

Na avaliação da consultoria inglesa Capital Economics, o PBoC permitiu que a moeda chinesa se enfraquecesse para além do nível de 7 yuans por dólar. De acordo com o economista Julian Evans-Pritchard, o movimento sugere que Pequim abandonou as esperanças de um acordo comercial com os EUA.

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Dado que o movimento visa compensar o impacto das tarifas adicionais a serem aplicadas pelos EUA, a Capital Economics calcula que o banco central chinês deve permitir que o yuan se enfraqueça ainda mais, possivelmente em um nível entre 5% e 10% nos próximos trimestres.

O economista Jason Daw, do Société Générale, defende que o banco central chinês tem as ferramentas necessárias para impedir a desvalorização do yuan, mas argumenta que foi escolha do PBoC deixar o dólar furar o nível de 7 yuans. "A China provavelmente determinou que é improvável um acordo com os EUA e que é hora de permitir que o yuan caia para refletir os fundamentos (crescimento mais fraco)", escreveu Daw em nota enviada a clientes.

Para ele, o desapontamento dos mercados com o Federal Reserve (Fed) e o aumento das tensões comerciais "podem levar a uma fase de derretimento das moedas de mercados emergentes".

Repercussões no iene

O movimento de busca por segurança após o dólar ultrapassar a marca de 7 yuans também teve repercussões no iene. Considerada um porto seguro, a moeda japonesa opera nos maiores níveis desde março de 2018 em relação ao dólar. Estrategistas de câmbio do Goldman Sachs esperam que, nos próximos três meses, o dólar atinja o nível de 103 ienes. "O Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) e o Ministério das Finanças irão se reunir nesta segunda-feira para discutir os mercados financeiros. Na esteira da queda do yuan, os mercados ficarão imaginando se o Japão irá intervir no mercado de câmbio ou se poderá flexibilizar ainda mais a política monetária", apontaram os estrategistas do Danske Bank, em nota a clientes. Não por acaso, o retorno do bônus do governo japonês (JGB, na sigla em inglês) de dez anos renovou mínima histórica ao cair para -0,191%. / Com Reuters

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