Haddad diz que é preciso calibrar juros para controlar a inflação sem jogar economia numa recessão

Para ministro, política monetária é como antibiótico: precisar dar na dose certa e na hora certa; “precisa de muita sabedoria”

PUBLICIDADE

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta sexta-feira, 7, que é preciso muita sabedoria para conduzir a política monetária e calibrar a dose correta dos juros para conseguir controlar a inflação sem impactar negativamente a economia. Ele concedeu entrevista à rádio Cidade, de Caruaru (PE), e foi questionado sobre o atual patamar de juros – a Selic está em 13,25% ao ano – e as críticas recorrentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ex-presidente do Banco Central Roberto Campos Neto.

PUBLICIDADE

Haddad disse que o patamar de juros pode ajudar ou atrapalhar a economia, o que “depende da hora e depende da dose”.

“Se você está tendo um repique inflacionário, você precisa corrigir. O remédio para corrigir a inflação é muitas vezes você aumentar a taxa de juros para inibir a alta de preços. Agora tudo isso tem de ser feito da maneira correta, na dose certa. Isso é que nem um antibiótico. Você não pode tomar a cartela inteira num dia, nem pular o horário nem tomar mais do que você precisa. Nem menos, nem mais do que você precisa. Então a política monetária tem de ter muita sabedoria para você conduzir”, disse.

Ministro da fazenda, Fernando Haddad, diz que política monetária exige muita sabedoria para você conduzir Foto: WILTON JUNIOR

Haddad disse que é preciso observar a atividade econômica, para que a política monetária não gere problemas, como jogar o País em uma recessão ou gerar instabilidade em transações correntes com o exterior. “Às vezes você aumenta para desaquecer um pouco a economia, porque, se estiver muito aquecida, os preços vão aumentar.’

Publicidade

O BC foi mais duro na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), ao citar que “o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade” e cobrou pela harmonização das políticas monetária e fiscal.

O governo reconhece. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, reforçou a necessidade de trabalho conjunto e disse haver consciência da necessidade de desacelerar a economia para a convergência da inflação.