PUBLICIDADE

Publicidade

‘Remédio para combater a inflação é a redução dos juros, por incrível que pareça’, diz Haddad

Ministro da Fazenda diz que, a partir de determinado ponto, ‘remédio vira veneno’ e que queda da Selic é importante para estimular o investimento privado e elevar a oferta de produtos

Foto do author Bianca Lima
Foto do author Fernanda Trisotto
Atualização:

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta sexta-feira, 22, que o remédio para combater a inflação, na conjuntura atual, é a redução da taxa básica de juros, a chamada Selic. “Por incrível que pareça”, frisou. A avaliação vai na contramão da tese mais ortodoxa utilizada na economia, de que o controle da inflação se dá, via de regra, pelo aumento dos juros.

PUBLICIDADE

“O juro está caindo e vai cair mais, tem de cair mais”, destacou o titular da equipe econômica, durante café da manhã com jornalistas.

Haddad defendeu a manutenção dos cortes da Selic, afirmando que eles terão efeito sobre o investimento privado, chamado na linguagem técnica de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Consequentemente, disse Haddad, haverá um aumento da oferta de produtos, o que reduziria a pressão inflacionária no médio prazo.

Ele classificou o investimento privado de “variável-chave” da economia, determinante para definir o ritmo de crescimento da atividade do País. Segundo o ministro, esse foi o único indicador macroeconômico que apresentou resultado negativo, aquém do esperado, em 2023 - o que foi atribuído exatamente à política de juros.

“Obviamente, tem a ver com a política monetária, que quis trazer a inflação para dentro da banda rapidamente. Só que, a partir de determinado ponto, o remédio vira veneno”, afirmou o ministro. “Se você constranger a oferta, vai ter problema de inflação às avessas”, disse.

'Remédio para combater a inflação é a redução dos juros, por incrível que pareça', afirmou em café com jornalistas na sede da Fazenda. Foto: Wilton Junior

Semanas atrás, no entanto, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a batalha contra a inflação “não está ganha” e que o atual ritmo de queda dos juros é visto como “apropriado” - o que voltou a repetir nesta quinta-feira.

Churrasco com Lula

Haddad relembrou que defendeu o início do corte de juros duas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) antes do que de fato ocorreu, mas frisou que isso não significa uma crítica à autonomia do Banco Central. O presidente da autoridade monetária, no entanto, foi alvo de duras ofensivas do governo nos primeiros meses do mandato, sobretudo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Publicidade

Na semana passada, o Copom reduziu a Selic pela quarta vez consecutiva, em 0,50 ponto porcentual, para 11,75% ao ano. O colegiado sinalizou que irá continuar neste ritmo de cortes nas duas próximas reuniões, em janeiro e março de 2024 - mas não se comprometeu com um aumento na intensidade dos cortes e nem com a sua continuidade para além de duas reuniões.

Haddad sinalizou, porém, que a situação está apaziguada. “O presidente do BC estava ontem comendo churrasco com a gente. Ele foi convidado pelo presidente (Lula). Eu converso com Roberto (Campos Neto) três vezes por semana, fui ao BC essa semana, fazer visita de cortesia”, disse o ministro.

“Quando ele fala que o fiscal tem de melhorar, ele não está me criticando. Ele faz trabalho dele e eu, o meu”, disse Haddad. “Você pensa que o Meirelles (ex-presidente do BC e ex-ministro da Fazenda) ou o Palocci (ex-ministro da Fazenda) tinham vida fácil? Ninguém tem vida fácil nesse emprego aqui.”

O BC vem alertando para a questão fiscal em seus comunicados e defendendo que o governo faça a sua parte em relação às contas públicas, para ajudar a controlar a inflação e manter o ciclo de queda dos juros.

No início do mês, Campos Neto afirmou que a situação fiscal do País hoje está “desancorada”, com o mercado financeiro projetando números piores do que os do governo, e disse que é necessário “trabalhar em conjunto” para melhorar as expectativas daqui para frente.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.