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Federal Reserve está na pior posição para uma autoridade monetária: correndo atrás do prejuízo

Não há garantia de que seja possível elevar os juros para um patamar suficiente para controlar a inflação sem provocar recessão; BC americano tem de enfrentar isso porque foi lento

colunista convidado
Foto do author Henrique  Meirelles
Por Henrique Meirelles

É praticamente consenso que o Federal Reserve deve fazer nova elevação de 0,75 ponto porcentual na taxa de juros nos EUA, na reunião que ocorre hoje e amanhã. Será a quarta elevação seguida desde março. A taxa de juros está no intervalo entre 1,5% e 1,75% ao ano e deve chegar a 3% e 3,5% no fim do ano. O Fed está na pior posição que uma autoridade monetária pode estar: correndo atrás do prejuízo, ou “está atrás da curva”, como diz o jargão.

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve; Estados Unidos enfrentam uma forte inflação Foto: Shawn Thew/EFE

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A verdade é que o Fed demorou a agir. Era certo que a injeção de US$ 1,9 trilhão do governo Joe Biden para reativar a economia provocaria efeitos colaterais. É uma enormidade de dinheiro. Não é surpresa que a inflação esteja em 9,1%, a mais alta desde 1981, e o desemprego esteja em 3,6%. São sinais inequívocos de superaquecimento e indícios de um desastre se o Fed não acertar.

A alta no custo de vida é assunto nos EUA pela primeira vez em décadas. O The Wall Street Journal publicou reportagem sobre o que a inflação provoca e como o investidor deve se proteger. Grande parte dos americanos nunca viveu sob inflação alta. O chairman do Fed, Jerome Powell, disse que elevará os juros o quanto for necessário para trazer a inflação para a meta de 2% e que há risco de a consequência ser uma recessão. Não há garantia de que seja possível elevar os juros para um patamar suficiente para controlar a inflação sem provocar recessão, o chamado “soft landing” (pouso suave). O Fed tem de enfrentar isso porque foi lento.

O dilema do Fed me lembra um seminário de economistas e presidentes de Bancos Centrais, que ocorre anualmente em Lucerna, na Suíça, do qual participei algumas vezes. Numa delas o economista Alan Meltzer falava sobre uma reunião no fim da década de 1970, quando a inflação americana era de elevada, resultado de anos alta liquidez, porque o chairman do Fed Arthur Burns fazia o que o presidente Richard Nixon queria.

Alan disse que, naquela ocasião, se discutiu muito se o Fed deveria elevar os juros. Ele lembrou que Paul Volcker assumiu o Fed e, sem hesitar, elevou os juros a impensáveis 21% ao ano e jogou a economia na recessão. Mas controlou a inflação e o país viveu 20 anos de inflação e juros baixos e crescimento econômico, período conhecido como “Great Moderation” (Grande Moderação).

É claro que este ensinamento vale para todas as profissões, mas é fundamental para quem conduz uma autoridade monetária. Crescimento é essencial, mas em ritmo acima da capacidade da economia naquele momento gera inflação e distorções que produzem prejuízos maiores e mais duradouros do que os ganhos de curto prazo.

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