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Ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central

Opinião | Controlar o gasto público é difícil, mas dá resultados positivos na avaliação do governo

Responsabilidade fiscal pode ser difícil de bancar politicamente no curto prazo, mas é o caminho que mantém a inflação sob controle e a economia estável

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Foto do author Henrique  Meirelles

O governo sofre com baixos índices de aprovação. Uma das razões é a resiliência da inflação, em especial nos alimentos, que afeta mais fortemente a camada mais pobre da população.

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A inflação tem seus componentes sazonais, mas parte do problema hoje é resultado da expansão fiscal. O PIB de 2024 vai crescer acima de 3%, de acordo com as projeções mais recentes.

Esse resultado foi principalmente consequência das reformas feitas durante o governo Temer. Mas foi impulsionado também pelo consumo do governo, via aumento do gasto com benefícios sociais, precatórios e outras despesas. Isso tem um custo, pois impulsiona a inflação.

Governo sofre com baixos índices de aprovação, e uma das razões é a resiliência da inflação, em especial nos alimentos Foto: Wilton Junior/Estadão

Na semana passada o governo anunciou a liberação de novos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Haverá também uma medida provisória para aumentar o crédito consignado de trabalhadores de empresas privadas. São medidas que jogam mais dinheiro na economia para consumo. No momento em que escrevo, a estimativa é de R$ 12 bilhões.

Agradar à população com estas medidas tem um efeito positivo, no entanto, mais dinheiro em circulação significa que o Banco Central terá mais trabalho para trazer a inflação à meta de 3%. A taxa Selic está em 13,25% ao ano e vai a 14,25% em março. Mas pode ir além disso. Juros mais altos reduzem a inflação, mas também a atividade econômica — o que pode significar menos empregos no futuro próximo. E um ciclo negativo.

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O caminho oposto dá melhores resultados, como mostra o primeiro governo Lula. Durante aquele período, o governo manteve uma política fiscal austera. Eu era o presidente do Banco Central e adotamos uma política monetária que manteve a inflação sob controle. O Brasil cresceu em média 4% ao ano e 40 milhões de pessoas saíram da pobreza. Em 2016, quando assumi o Ministério da Fazenda, tiramos o Brasil da maior crise da história recente, causada por excesso de gasto público, por meio do controle de despesas, com o teto de gastos.

A responsabilidade fiscal pode ser difícil de bancar politicamente no curto prazo, mas é o caminho que mantém a inflação sob controle e a economia estável, com uma Selic menor, e com capacidade para crescer de forma sustentável e gerar mais empregos e renda. Controlar o gasto público é difícil, sei disso pela minha vivência no Ministério da Fazenda, mas dá resultados positivos na economia e, em última instância, na avaliação do governo.

Opinião por Henrique Meirelles

Ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda

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