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Ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central

Opinião | Galípolo deveria manter distância respeitosa e técnica de Lula

Guardar certa distância pode ajudar presidente do BC a consolidar a imagem de independência e convencer mais céticos de que não está no cargo para ajudar o governo

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Foto do author Henrique  Meirelles

O Banco Central agiu corretamente ao elevar em um ponto porcentual a Selic, para 13,25% ao ano, como havia anunciado que faria. Isso é fundamental para trazer a inflação para a meta de 3% e para ancorar as expectativas. Mas não apenas isso. É importante para Gabriel Galípolo consolidar a imagem de independência logo no início de sua gestão como presidente do BC, em um momento de certa desconfiança na economia brasileira.

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Galípolo é o primeiro presidente do Banco Central escolhido sob a lei da autonomia. Foi apontado pelo presidente Lula e desfruta de proximidade com ele. O mercado desconfia da política fiscal do governo e cobrou um preço alto no final do ano por não acreditar nas medidas de controle de despesas. Assim, pode levar tempo para o mercado abandonar qualquer desconfiança de que Galípolo possa fazer algo para ajudar um governo que gasta mais do que deveria. Isso não é bom para um presidente de BC.

Já contei aqui que, ao assumir a presidência do BC em 2003, enfrentei desconfiança semelhante. Demonstramos independência logo de saída — e o mercado entendeu que não haveria leniência com a inflação.

Meirelles: 'É preciso que o mercado acredite que Galípolo tomará as medidas necessárias' Foto: Reprodução X/@presidencia_br/Audiovisual/PR

Como disse em uma conferência na semana passada, acredito que, diante deste quadro, Galípolo deveria manter uma distância respeitosa e técnica da Presidência da República. Deveria evitar fazer muitas reuniões com ministros. Faz parte do trabalho de um presidente de Banco Central dar sinais além das decisões técnicas. Fiz bastante isso em meus oito anos no cargo. Em determinados períodos antes de reuniões do Copom, eu recusava convites e chamados para reuniões. Posso dizer que funciona.

O cargo de presidente do BC tem particularidades devido à sua missão institucional e, em certa medida, a lei da independência facilita isso. Guardar certa distância de outras autoridades pode ajudar Galípolo a consolidar a imagem de independência que está construindo e convencer alguns agentes do mercado mais céticos de que não está no cargo para ajudar o governo, mas para trabalhar pela estabilidade da economia. Deve mostrar claramente que fará o que for necessário para trazer a inflação à meta.

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O momento da economia é de cautela e certa desconfiança, mas o BC tem totais condições técnicas de levar a inflação para a meta de 3%. É preciso fazer com que o mercado acredite que Galípolo e toda a diretoria tomarão as medidas necessárias para isso, independente da conveniência delas para o governo. Com isso, o BC assumirá o controle das expectativas.

Opinião por Henrique Meirelles

Ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda

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