O coordenador do IPC-Fipe, Heron do Carmo, minimizou o impacto da desvalorização cambial sobre o IPC-Fipe, que fechou julho em 0,67%. Embora o grupo Alimentação tenha registrado uma variação de 1,12% no mês, ante uma taxa de 0,36% em junho, Heron explicou que a elevação não decorre apenas do repasse da alta do dólar para os preços dos alimentos. Os produtos que mais pressionaram este conjunto foram pão francês (9,64%), óleo de soja (8,94%) e feijão (15,39%). A contribuição desses três produtos para a composição Fipe de julho foi de 0,22 ponto porcentual. "Se considerarmos que mais ou menos um quarto dos gastos das famílias é com alimentação, a alta de 1,12% do grupo pode ser atribuída a esses três itens. Se não fossem eles, a inflação de julho teria ficado bem próxima do índice registrado em junho (0,31%)", disse. De acordo com Heron, afirmar que esses aumentos foram provocados apenas pelo repasse do câmbio, não é correto. O pão, por exemplo, derivado do trigo, uma commodity cotada em dólar, não subiu somente por conta do dólar. O preço desse produto, segundo o economista, incorpora também parte dos reajustes de tarifas públicas, no caso de gás de cozinha (3,12%) ou energia elétrica (0,95%). Quanto ao óleo de soja, outro produto cuja alta tem sido atribuída à elevação da moeda norte-americana, reflete também a valorização do preço da commodity no mercado internacional. Isso tem contribuído, além da própria desvalorização do dólar, para as exportações do grão. O feijão, diz Heron, a alta deriva unicamente da quebra de safra. Além disso, a taxa de câmbio em R$ 3,00 não é tão diferente, em termos reais, do índice verificado no ano passado, quando atingiu R$ 2,80. "Isso quer dizer que o câmbio, ao contrário do que o mercado tem pregado, não oferece tantos problemas para a inflação", disse ele, acrescentando que em São Paulo o maior impacto da moeda norte-americana foi incorporado mais pelas tarifas públicas. Neste sentido, é que o dólar preocupa, segundo o economista. "Se o câmbio continuar pressionado, ainda teremos aumentos da gasolina além das pressões sobre as tarifas no próximo ano", previu. Tarifas Embora faça previsões do impacto do dólar sobre as tarifas públicas, caso o câmbio mantenha-se pressionado, Heron do Carmo não acredita que isso ocorra. Segundo ele, com a aproximação do segundo turno das eleições deverá haver uma convergência em torno do que será a política econômica do próximo governo. "Isso deverá acalmar o mercado", disse. Ele explica que nessa disputa os três candidatos à Presidência - José Serra (PSDB), Ciro Gomes (PPS) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - têm chances de chegar ao segundo turno. Segundo Heron, um deles é o candidato do governo, o que não representará mudanças na condução da política econômica. O outro fez aliança com o PFL, que é um partido que não vai sancionar qualquer aventura econômica, diz. De acordo com o economista, este mesmo candidato já fez parte de governos anteriores. "Nunca tivemos tanto consenso numa disputa eleitoral como a deste ano. Não vejo porque tanta agitação no mercado", disse. Segundo Heron do Carmo, o terceiro candidato é da oposição mas faz parte do partido que já é governo em alguns Estados e municípios. Ele ainda cita como uma atenuante para a crise cambial o acordo que está sendo negociado entre o Brasil e o Fundo Monetário Internacional. Para Heron, esse acordo vem mais para acalmar os que acompanham o mercado financeiro do que o resto da população, uma vez que a desvalorização cambial ainda não atingiu a economia real. "Este deverá ser mais um acordo feito para não se usar", disse, acrescentando que a disposição do governo americano em ajudar o Uruguai e a Argentina também acabará beneficiando o Brasil.