Hollande eleva impostos em € 14 bi

Para enfrentar déficit público que chega a 87% do PIB, presidente francês revoga principais isenções tributárias criadas por Sarkozy

PUBLICIDADE

Publicidade
Por ANDREI NETTO, CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:

A fatura do governo socialista de François Hollande já tem preço na França: vai custar € 14 bilhões em aumento de impostos até o fim de 2013. O projeto de reforma fiscal apresentado pelo novo gabinete foi anunciado ontem em Paris e revoga todas as principais isenções de impostos criadas pelo governo de Nicolas Sarkozy. As medidas integram um pacote de aumento de impostos para enfrentar o déficit público e as dívidas, que chegam a 87% do Produto Interno Bruto (PIB).O texto entregue ao Parlamento ontem suspende isenções de impostos para grandes fortunas, reforma as cotizações sociais e anula a isenção fiscal de horas extras - com efeito retroativo a janeiro de 2012 -, além de aumentar os impostos sobre heranças e doações e sobre ações de companhias petrolíferas. As iniciativas resultarão no aumento de arrecadação da ordem de € 7,2 bilhões neste ano e € 6,1 bilhões em 2013. Se todas as emendas forem aprovadas, esse segundo valor subirá para € 6,8 bilhões.As medidas foram defendidas no plenário da Assembleia Nacional pelo primeiro-ministro, Jean-Marc Ayrault, e pelo ministro da Economia, Pierre Moscovici. "Trata-se de um esforço que diz respeito essencialmente às receitas, um esforço igualitário, que nos permitirá respeitar os nosso compromissos", justificou o ministro. Esse discurso, uma orientação do presidente, visa a ressaltar que a ênfase será a contribuição de empresas e de classes sociais mais abastadas. Mas o Palácio do Eliseu tem dificuldades para explicar que a sociedade francesa inteira não será atingida pelas medidas. Segundo o governo, é preciso reformar a base de impostos para garantir o cumprimento das metas de redução do déficit público assumidas com a União Europeia - 4,5% em 2012, uma redução de 0,7% em relação ao ano passado.O projeto, entretanto, está acabando com a lua de mel entre governo e opinião pública. As primeiras pesquisas sobre a popularidade de Hollande já indicam queda. O maior desafio do presidente é convencer os franceses de que as medidas de austeridade não abalam sua determinação de estimular o crescimento na França e na Europa - um discurso difícil de sustentar quando as previsões para o PIB não param de ser reajustadas para baixo, já chegando a 0,3% em 2012.Promessa. Outro ponto polêmico do projeto diz respeito a uma de suas maiores promessas de campanha, a lei que ampliará a 75% o imposto sobre salários anuais acima de € 1 milhão. O texto ainda não foi apresentado, mas já cria polêmicas e desgastes, até mesmo internacionais. Em junho, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, chegou a afirmar que abriria um tapete vermelho aos investidores e aos empresários franceses que queiram escapar da taxa. Coincidência ou não, o texto deve ser discutido no verão europeu e só deve ser enviado à Assembleia Nacional em setembro.Para contrabalançar as críticas e mostrar que o próprio governo está engajado na disciplina fiscal, Ayrault também apresentou ontem lei de corte de 30% dos vencimentos do presidente e do primeiro-ministro.

Comentários

Os comentários são exclusivos para cadastrados.