RIO - Apesar dos aumentos nos gastos das famílias com alimentos e transportes, a inflação oficial no País iniciou o ano de 2025 com forte desaceleração. O alívio foi passageiro, graças à incorporação do Bônus de Itaipu às contas de luz, reduzindo assim o custo da energia elétrica em janeiro.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou o primeiro mês deste ano com uma alta de 0,16%, ante uma elevação de 0,52% em dezembro, informou nesta terça-feira, 11, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa foi a mais branda para um mês de janeiro em toda a série histórica, iniciada na implementação do Plano Real, em 1994.
A energia elétrica ficou 14,21% mais barata em janeiro, queda mais acentuada desde fevereiro de 2013. A incorporação do Bônus de Itaipu, creditado nas faturas emitidas no mês, resultou em fator preponderante para que a inflação descesse a piso histórico para esse período do ano, confirmou Fernando Gonçalves, gerente do IPCA no IBGE.
“O impacto só de energia elétrica foi de -0,55 ponto porcentual. Foi por conta dessa energia elétrica (a taxa mais branda do IPCA)”, confirmou Gonçalves.

Analistas do mercado financeiro já calculavam a magnitude do desconto, portanto não houve surpresas quanto ao resultado de janeiro. O IPCA veio exatamente em linha com a inflação mediana prevista no Estadão/Broadcast.
“Fazendo um contrafactual, se não existisse esse tal ‘Bônus de Itaipu’, o IPCA de janeiro teria ficado em 0,71%. Ou seja, a inflação não teria desacelerado entre dezembro e janeiro, mas ficado mais alta. Mas, o pior é que esta deflação será ‘compensada’ em fevereiro, levando o IPCA do mês, já impactado pelas mensalidades escolares, subir para algo próximo de 1,30%”, calculou Luis Otávio Leal, economista-chefe da gestora de recursos G5 Partners, em comentário.
Quatro dos nove grupos de despesas que integram o IPCA registraram quedas de preços em janeiro. Além de habitação, houve deflação também em artigos de residência, vestuário e comunicação. Os avanços foram registrados em alimentação, transportes, despesas pessoais, saúde e educação.
Os gastos com transportes tiveram uma elevação de 1,30% em janeiro, influenciados, sobretudo, pelo aumento de 10,42% nos preços das passagens aéreas, subitem de maior impacto individual sobre a inflação do mês. Houve pressão também do ônibus urbano, com alta de 3,84%, e do encarecimento generalizado dos combustíveis: etanol (1,82%), óleo diesel (0,97%), gasolina (0,61%) e gás veicular (0,43%).
“Um cenário de pressões inflacionistas crescentes, expectativas de inflação ainda desancoradas a curto e médio prazos, um hiato do produto positivo e um mercado de trabalho apertado requerem uma calibração conservadora altista da política monetária”, avaliou o chefe de economia para a América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos, em relatório.
Pressionados por uma restrição de oferta em algumas culturas, os alimentos voltaram a subir em janeiro, pelo quinto mês consecutivo. As carnes, porém, sinalizaram uma trégua. Após meses de acentuado aumento nos preços, a alta em janeiro arrefeceu para 0,36%. Alguns cortes chegaram a ficar mais baratos, como patinho (-0,26%), acém (-1,45%) e costela (-0,11%).
“As chuvas vieram, começa a melhorar o pasto, isso tudo traz condições que podem beneficiar a produção”, justificou Fernando Gonçalves, do IBGE.
Nos últimos quatro meses do ano passado, de setembro a dezembro, as carnes tinham subido 23,88%, após quedas de preços no primeiro semestre de 2024.
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O grupo alimentação e bebidas registrou uma alta de 0,96% em janeiro. A alimentação para consumo no domicílio subiu 1,07%, influenciada pelas altas da cenoura (36,14%), tomate (20,27%) e café moído (8,56%).
Segundo Fernando Gonçalves, os preços dos alimentos ainda sobem por uma restrição de oferta. Há um impacto sazonal de condições meteorológicas sobre o desempenho de algumas lavouras, embora o clima esteja mais ameno nesta temporada em relação a anos anteriores. Em janeiro, houve reduções de preços na batata-inglesa (-9,12%) e no leite longa vida (-1,53%).
A alimentação fora de casa subiu 0,67% em janeiro: o lanche aumentou 0,94%, e a refeição avançou 0,58%.
Para Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, continua ocorrendo “significativa piora” na qualidade da inflação.
“Mesmo diante de uma maior contenção cambial, que tem despressurizado alimentação e manufaturados, fica claro que a baixa ociosidade da economia continua pressionando os itens mais relacionados ao ciclo de política monetária”, disse Borsoi, em comentário que prevê avanços de 5,91% no IPCA de 2025 e de 4,53% para 2026, porém com viés de alta.