A onda de otimismo que varreu o mercado após a surpresa com os dados da inflação nos Estados Unidos conduziu o Ibovespa às máximas em mais de dois anos e levou o dólar à menor cotação ante o real em quase dois meses.
Os dados do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) americano chancelaram não só a aposta de que o ciclo de alta do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) terminou como a chance de que em breve haverá um processo de queda dos juros, alimentando o rali para o risco.
Pela manhã, o Departamento do Trabalho dos EUA informou que o índice de preços ao consumidor ficou estável em outubro em relação a setembro, ante expectativa de leve alta, de 0,1%. “O dado de inflação reforçou as expectativas de que o Banco Central americano não precisará aumentar mais a taxa de juros, e a reação positiva do mercado foi instantânea”, diz João Romar, head de Internacional da InvestSmart XP.
O núcleo do CPI (que exclui preços mais voláteis como alimentos e energia) avançou 0,2% em outubro, também aquém das expectativas (0,3%). Na comparação anual, o CPI dos EUA desacelerou de 3,7% em setembro para 3,2% em outubro, ainda bem acima da meta de inflação de 2% perseguida pelo Federal Reserve.
“A boa notícia é que tanto a inflação cheia quanto o núcleo vieram abaixo das expectativas. Caso o núcleo mantenha essa trajetória baixista até a próxima reunião (em dezembro) do Fomc (o comitê de política monetária do Federal Reserve, o BC dos EUA), a tendência é de não termos mais elevações na taxa de juros (nos Estados Unidos)”, aponta Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, celebrou os dados. “Hoje, nós vimos mais progresso para levar a inflação para baixo, enquanto se mantém um dos mercados de trabalho mais fortes da história”, afirmou, em comunicado. Biden disse que a inflação anual, em 3,2%, recua 65% desde seu pico, e citou também queda forte dos preços da gasolina, desde o pico causado pela “invasão de Putin na Ucrânia”, referindo-se ao presidente russo, Vladimir Putin.
A inflação recua e a taxa de desemprego está abaixo de 4% há 21 meses seguidos, a maior sequência do tipo em mais de 50 anos, afirmou. Biden diz que continua a brigar para cortar custos para famílias trabalhadoras, como pela redução de medicamentos prescritos e em seguro-saúde.
No Brasil, a questão da meta fiscal de 2024 ficou em segundo plano. Há tanto a pressão de parcela do PT por uma revisão já da meta quanto a percepção que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem ganhado tempo ao adiar a discussão.
O Ibovespa subiu aos 123.165,76 pontos, alta de 2,29%, maior nível desde agosto de 2021. Somente 6 dos 86 papéis que compõem o índice tiveram baixa.
O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 14, em queda firme no mercado doméstico de câmbio, em sintonia com a onda global de enfraquecimento da moeda americana. Em baixa desde a abertura dos negócios, o dólar à vista chegou a romper pontualmente o piso de R$ 4,85 pela manhã, quando registrou mínima a R$ 4,8486. No fim do dia, a moeda recuava 0,93%, cotada a R$ 4,8620 ― menor valor de fechamento desde 18 de setembro. As perdas do dólar em novembro agora são de 3,56%.
“O dia foi muito bom para as bolsas, aqui como também no exterior, com a possibilidade de encerramento, de vez, do ciclo de alta de juros nos Estados Unidos, após a leitura do CPI. A chance de que a taxa de juros nos Estados Unidos pare de subir e possa vir a cair antes do que se pensava favorece a liquidez no mundo todo, e traz alívio para emergentes como o Brasil, contribuindo para os negócios (com ativos de risco)”, diz o economista Gabriel Meira, sócio da Valor Investimentos.
As bolsas de Nova York tiveram fortes altas nesta terça-feira, 14, acima de 2% no caso do Nasdaq, que teve sua maior alta diária desde abril, impulsionadas pela divulgação dos dados de inflação de outubro nos Estados Unidos.
No fechamento, o índice Dow Jones subiu 1,43%, a 34.827,70 pontos; o S&P 500 subiu 1,91%, a 4.495,70 pontos; e o Nasdaq avançou 2,37%, a 14.094,38 pontos. No caso do S&P 500, o cenário chegou a levar de volta o índice ao nível acima de 4.500 pontos, que não alcançava desde setembro./Luís Eduardo Leal e Antonio Perez
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.