EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Reajustes salariais devem ceder do patamar de dois dígitos com a queda da inflação

Numa economia com mecanismos automáticos de indexação, quanto mais tempo a alta dos preços permanecer em dois dígitos, mais difícil ficará quebrar o círculo vicioso da memória inflacionária

PUBLICIDADE

Foto do author Fábio Alves
Atualização:

A desaceleração esperada da inflação em 2022, em grande parte graças à desoneração dos impostos sobre combustíveis, energia elétrica e telecomunicações, vai resultar num alívio adicional para os índices de preços em 2023: os reajustes salariais devem ceder do patamar de dois dígitos, como se observa há um ano, o que poderá reduzir a pressão da inércia sobre a inflação.

Segundo o Salariômetro da Fipe, que monitora as negociações coletivas no mercado de trabalho, o reajuste mediano dos salários resultante de acordos e convenções coletivas foi de 12% em junho, acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que foi de 11,9% naquele mês. Nos 12 meses anteriores até junho, o reajuste mediano dos dissídios ficou em 10,2%.

Com a queda da inflação, os reajustes salariais devem ceder do patamar de dois dígitos  Foto: Marcos Santos/USP Imagens

PUBLICIDADE

Ao longo deste ano, o mercado de trabalho ficou mais aquecido do que se imaginava. No segundo trimestre, a taxa de desemprego caiu para 9,3%, a mais baixa para um segundo trimestre em sete anos. Nesse ambiente, as principais categorias profissionais têm conseguido o repasse de quase toda a inflação passada.

E, com a reabertura da economia, profissionais liberais e outros prestadores de serviços, como faxineiras e cabeleireiros, também estão conseguindo reajustar o quanto cobram com base no aumento do custo de vida.

Não à toa, a grande preocupação dos analistas neste momento é com a inflação de serviços. O IPCA de julho caiu 0,68%, ante avanço de 0,67% em junho, já refletindo a desoneração dos impostos. Mas a inflação de serviços no índice registrou alta de 0,80%.

Publicidade

Antes da aprovação pelo Congresso da redução dos impostos sobre serviços essenciais, as projeções para a inflação em 2022 estavam em torno de 9% a 10%. Agora, o consenso das estimativas aponta para um IPCA de 7,11% neste ano. Assim, as datas-base das negociações coletivas devem resultar em reajustes mais baixos a partir de janeiro.

O economista-chefe da gestora WHG, Fernando Fenolio, diz enxergar uma defasagem de seis meses entre os dissídios monitorados pela Fipe e o núcleo da inflação de serviços. “O impacto das desonerações de impostos deve começar a puxar a inflação de serviços para baixo a partir do segundo trimestre de 2023″, explica. Ele prevê uma inflação de serviços desacelerando de 9%, em 2022, para 6,5% em 2023, um patamar ainda elevado.

Numa economia com mecanismos praticamente automáticos de indexação, como acontece com aluguéis e salários, quanto mais tempo a alta dos preços permanecer no patamar de dois dígitos, mais difícil ficará quebrar o círculo vicioso da memória inflacionária.

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.