SÃO PAULO - As controvérsias a respeito da correlação entre crescimento econômico e aumento da satisfação e da felicidade da população ganha, a partir de hoje, uma ferramenta que deve ajudar a analisar distorções no desenvolvimento econômico no Brasil e sua evolução. O chamado Índice Itaú de Bem-Estar Social, a ser lançado nesta tarde pela instituição, leva em conta grupos de dados que determinam Condições Econômicas, Humanas e de Igualdade Social e mostra o desempenho desse conjunto de variáveis em relação ao andamento do Produto Interno Bruto (PIB).
Pelo lado da funcionalidade, o índice também pode ajudar o mercado a identificar a qualidade da expansão da economia. "Do ponto de vista econômico, é possível avaliar a sustentabilidade do crescimento e até identificar formação de bolhas", diz Caio Megale, economista do Itaú responsável pela construção do índice, que contou também com a contribuição de Samuel Pessoa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e sócio da Tendências Consultoria Integrada.
O indicador, que começa com uma série histórica que vai de 1992 a 2010, leva em conta números nacionais de consumo (vendas no varejo, vendas de veículos e inflação) e de emprego (taxa de desemprego, de empregados e rendimento mensal) para formar o retrato das Condições Econômicas do Brasil ao longo do tempo.
Para avaliar as Condições Humanas, Megale selecionou dados de saúde e saneamento (mortalidade infantil, expectativa de vida, número de casos de tuberculose, porcentual da população com banheiro em casa e com acesso à rede de esgoto), números de educação (anos de escolaridade, com desdobramento também por distribuição do período). Fecha o cálculo com dados relativos à segurança, com a taxa de homicídios no País.
Finalmente, o terceiro sub-índice é relativo à igualdade social, com dados do Índice Gini (que mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita) e o Índice de Theil (uma medida estatística da distribuição de renda). Cada um dos três grupos de condições têm o mesmo peso no cálculo do bem-estar, que varia de 0 a 1.
Desafios futuros
Megale destaca no estudo o fato de o crescimento brasileiro dos últimos anos ter caráter mais sustentável por ter vindo acompanhando de melhora de qualidade de vida e de bem estar das pessoas. A reforma monetária de 1994, com a criação do real, por exemplo, gerou não só uma melhora abrupta das condições de bem-estar como impulsionou o índice nos anos seguintes.
Já de 1997 a 2001, as crise em países emergentes, inclusive no Brasil, leva o índice a uma certa estagnação, com piora das Condições Econômicas compensadas parcialmente pela evolução das Condições Humanas. A partir de 2002, o bem-estar volta a melhorar, com avanços nos três grupos de dados. A crise internacional de 2008, no entanto, aparece no indicador por meio da piora das Condições Econômicas, que leva a uma desaceleração do índice de bem-estar, também afetado pelo aumento da taxa de homicídios no País e uma perda de força nos números de educação, saúde e saneamento.
Megale diz que o desafio agora é agregar ao índice nos próximos anos dados que mostrem as condições do ambiente físico do País, que poderiam ser retratados por saturação de componentes como vias de deslocamento, ecologia e meio ambiente, mas para todos esses aspectos ainda faltam dados nacionais.