Japão: o preço do emprego vitalício

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Por Hiroko Tabuchi
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Quando as encomendas de laminados para sua pequena empresa, a High Metal, caíram, em outubro, jamais passou pela cabeça de Massaki Taruki demitir os empregados. Em vez disso, começou a pensar em novos projetos para mantê-los ocupados. Uma horta interna? Uma oficina de artesanato? Com os subsídios do governo, nos últimos três meses na horta de Taruki foram plantados salsinha, agrião e outros vegetais, no espaço vazio da fábrica, antes destinado ao maquinário parado. Os empregados da High Metal cuidam da horta religiosamente, regando as plantas, adicionando fertilizante e ajustando as luzes fluorescentes. Quando as vendas na fábrica de maquinário de Shinano Kogyo despencaram 70%, no fim do ano passado, a empresa mandou os empregados desocupados varrerem as ruas e recolher o lixo na comunidade, mas eles continuaram recebendo o seu salário. De acordo com estatísticas divulgadas esta semana, no primeiro trimestre do ano a economia japonesa sofreu sua pior contração desde 1955, uma queda de 15,2% numa comparação anual. Mas uma parte muito menor de trabalhadores perdeu o emprego no Japão, em relação aos Estados Unidos e à União Europeia. (a taxa de desemprego do Japão em abril foi de 4,8%, comparados aos 8,9% nos Estados Unidos e na Europa). Segundo analistas, isso é porque o emprego vitalício está vivo e muito bem no Japão, com o Estado assumindo o importante papel de mantê-lo assim. "No Japão,uma pessoa permanece um tempo surpreendentemente longo no emprego", diz Peter Matanle, especialista em trabalho no Japão, na Universidade de Sheffield, na Grã-Bretanha. "As empresas primeiro despedem os empregados temporários, depois diminuem as horas extras, reduzem as bonificações. E também cortam fornecedores. Fazem qualquer coisa antes de pensar em demitir empregados com carteira assinada." Mas essa obsessão de manter os trabalhadores na folha de pagamento, mesmo os que não são necessários, tem um custo. As empresas reduzem os salários, o que vai contribuir para diminuir o consumo. Relutam cada vez mais em contratar gente nova, o que impede os jovens de arranjar emprego. E a produtividade despenca, prejudicando a competitividade japonesa num mercado internacional cada vez mais agressivo. "Ajudando a manter o emprego em excesso, existe o risco de manter operando empresas que não são mais competitivas e cuja era produtiva já tenha acabado", diz Hisashi Yamada, economista do Japan Research Institute, grupo de pesquisa em Tóquio. "Isso vai prejudicar o nível de emprego no longo prazo. O que é preciso são mudanças estruturais." O sistema de emprego vitalício, que se consolidou no boom econômico do Japão no pós-guerra, reúne trabalhadores submissos e obedientes e empregadores paternalistas , produzindo uma lealdade recíproca (e uma harmonia no trabalho) raramente observada no Ocidente. Por lei, os empregadores podem reduzir a carga horária dos empregados, mas têm que pagar pelo menos 60% do seu salário durante esse tempo. O governo já colocou no orçamento deste ano US$ 624 milhões para reembolsar os patrões por metade dos pagamentos. Em março, 48.000 companhias conseguiram subsídios para 2,38 milhões de empregados, segundo dados do governo. Mesmo grandes empresas exportadoras, como a Nissan Motor e a NEC Electronics, usaram os subsídios para manter seus empregados na ativa, apesar da redução das horas de trabalho. De acordo com uma recente pesquisa do jornal de economia Nikkei, nenhum dono de grandes empresas tinha planos de demitir empregados com carteira assinada, em comparação com 39% na Coreia do Sul. Segundo especialistas, sem os subsídios, a taxa de desemprego no Japão seria 2% maior. Como é uma dificuldade despedir empregados com carteira assinada, as empresas contratam temporários com salário menor e menos benefícios, que podem ser demitidos mais facilmente. Hoje os temporários formam um terço da mão de obra japonesa. Mas manter toda essa gente ocupada é o desafio que a própria empresa tem que enfrentar. A fábrica de Taruki, em Osaka, anda agitada com os cuidados da horta. Usando um outro subsídio do governo, Taruki também gastou 5 milhões de ienes (cerca US$ 53 mil) numa oficina de trabalhos manuais, instalando uma máquina de gravação a laser numa pequena sala que antes abrigava armários para os funcionários. BUGIGANGAS A empresa vai fabricar chaveiros e outros bugigangas e pensa em produzir ornamentos para altares budistas. "Mesmo que a economia comece a melhorar, duvido que vamos nos recuperar totalmente", disse Taruki, cujo avô fundou a empresa, décadas atrás. "Por isso, preciso substituir o que perdemos. É responsabilidade da empresa proteger os empregos e aumentar o número deles". Mas alguns analistas questionam se a recessão será tão ruim a ponto de as empresas japonesas terem de demitir empregados com carteira assinada. Líderes trabalhistas dizem que vêm aumentando os casos em que empregados sofrem cortes de salário ou rebaixamento de função tão humilhantes que são levados a sair do emprego. Para alguns analistas, as empresas precisam fazer um exame imparcial das suas folhas de pagamento. "Até agora, as companhias quase não cortaram mão de obra", diz Carl B. Weinberg, que dirige a empresa de análise High Frequency Economics, numa nota dirigida aos clientes. "Despedidas em massa são iminentes, mas não tão breve como seria necessário". *O autor é repórter de Economia e Negócios

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