O Brasil corre o risco de perder para o México a posição de principal destino dos investimentos diretos japoneses fora da área financeira na América Latina. O alerta foi feito pelo coordenador do Departamento de Planejamento da agência japonesa de comércio exterior, a Jetro (Japan External Trade Organization), Tastuya Kato. O Brasil ainda lidera a corrida, mas o fluxo de mercadorias entre Japão e México triplicou desde 2005, quando os dois países fecharam um acordo de livre comércio. O principal atrativo para as empresas japonesas, sobretudo a automobilística, é o acesso ao mercado norte-americano. ''''O acordo se refere não somente a impostos de importação, mas também à melhora do clima de negócios'''', explicou Kato ao Estado. ''''Esse tipo de esforço é imprescindível, do contrário não há avanços.'''' A agenda para melhorar o ambiente de negócios é quase a mesma reivindicada pelo setor produtivo brasileiro: as reformas tributária, trabalhista e da Previdência, mais incentivos a novos investimentos e a melhoria da segurança pública. Um acordo como o que o Japão tem com o México ou como o que terá com o Chile não seria possível no Brasil. Por ser parte do Mercosul, o País não pode negociar isoladamente. Além disso, o tema não é prioridade da diplomacia nem de um lado nem de outro, segundo avaliou o presidente do escritório da Jetro no Brasil, Yuji Watanabe. De fato, a prioridade brasileira é o acordo na Organização Mundial de Comércio (OMC) que eliminará subsídios dos países ricos à agricultura e um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia. A diplomacia japonesa costura um acordo com China e Coréia do Sul que simplesmente está absorvendo toda a mão de obra negociadora. Os japoneses, porém, insistem em um acordo porque não querem abrir mão do potencial de crescimento brasileiro. Kazuyuki Yamazaki, do ministério japonês das Relações Exteriores, esteve no Brasil há duas semanas com o então ministro Taro Aso e ouviu das empresas japonesas a informação que é crescente o número de presidentes de companhias que visitam o País. ''''Isso não acontecia até recentemente'''', observou. Para ele, é um indicativo que novos investimentos deverão ser anunciados, parte deles no ano que vem, que foi escolhido como o ano do intercâmbio Brasil-Japão. Enquanto o acordo com o México é uma porta para os Estados Unidos, um acordo com o Brasil poderia ser, no futuro, um atalho para entrar na União Européia, uma vez fechado o acordo com o Mercosul. MOEDA DE TROCA Na diplomacia brasileira, há quem veja na pressão dos japoneses a tentativa de obter um acordo de proteção de investimentos. É algo que o Brasil não concedeu a país algum e nem por isso deixou de receber investimentos, avalia-se. A leitura, não consensual no governo, é que o Brasil teria mais a perder do que a ganhar com o acordo. Pelo lado agrícola, a principal reivindicação do Brasil é a abertura do mercado japonês para a carne bovina. A moeda de troca poderia ser a abertura do mercado brasileiro para os produtos industrializados japoneses. A intenção é aproveitar as comemorações dos 100 anos da imigração japonesa no Brasil para dar mais peso às relações econômicas. Há expectativa que sejam anunciados também investimentos brasileiros no Japão liderado por empresas como Petrobrás, Vale do Rio Doce, Petrobrás e Gerdau. NÚMEROS US$ 7,8 bilhões é estoque de investimentos diretos japoneses no Brasil US$ 1,7 bilhão é o estoque no México 30% é o crescimento anual do fluxo de mercadorias entre México e Japão *A repórter viajou a convite da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos
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