O banqueiro André Esteves, presidente do conselho de administração e principal acionista do BTG Pactual, pode até ser um exemplo emblemático da velha máxima que circula na Faria Lima, de que “não existem freiras no mercado”, como afirmam seus críticos mais contundentes.
Ao longo de sua trajetória profissional, que o levou das mesas de operações ao topo de uma das principais instituições financeiras do País, ele se tornou alvo de muita controvérsia. Algumas delas podem ser enquadradas na rubrica “intrigas da oposição” e foram fruto da inveja da concorrência em relação ao sucesso que ele alcançou na banca. Outras, relacionadas à proximidade que procurou cultivar com os donos do poder, têm base na realidade e deixaram cicatrizes que o tempo vai, de um jeito ou de outro, cuidando de suavizar.

Agora, nem mesmo os seus detratores podem negar a sua capacidade de estar sempre ou quase sempre duas curvas à frente de seus pares e de ter um feeling privilegiado para detectar antes dos outros as tendências do mercado, à margem das narrativas que predominam por aí. Talvez, sejam estas, justamente, as razões de suas conquistas, entre um tropeço e outro ao longo do caminho.
Por isso, os comentários que ele fez sobre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seu governo nesta quarta-feira, 12, durante sua participação no BTG Summit 2025, um evento anual organizado pelo banco que reúne palestrantes do mercado financeiro e de outras atividades, merecem a devida atenção.
Na contramão da “manada” de “especialistas” de todos os tipos que pontificam em coro sobre os acontecimentos políticos e econômicos da hora, Esteves furou a bolha anti-Trump que tem cercado o noticiário e as análises sobre o presidente americano no País e tudo que ele tem feito desde a sua volta à Casa Branca, em 20 de janeiro. Esteves elogiou a “agenda pró-business” de Trump, apesar das ressalvas que fez ao aumento de tarifas que ele tem promovido, e disse que os empresários americanos com quem tem falado estão animados com as perspectivas econômicas em seu governo.
“Vemos uma agenda de eficiência agressiva do governo, de corte de custos e impostos e de desregulamentação da economia”, afirmou Esteves. Desde antes das eleições nos Estados Unidos, ele vinha demonstrando preocupação com o déficit orçamentário do país, que chegou a US$ 1,8 trilhão no ano fiscal de 2024 (outubro/23 a setembro/24), e com a escalada da dívida pública federal americana, que superou os US$ 36 trilhões, o equivalente a 123,5% do PIB (Produto Interno Bruto). “Só tem a tarifa para dar uma estragadinha. Mas o resto está perfeito. Você vê coisas muito especiais nesse governo, com alguns erros. Porém, estou otimista.”
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Entre os equívocos de Trump, ele destacou sua estratégia de aumentar as tarifas sobre importações e ao mesmo tempo promover cortes de impostos. “No início do século passado, os Estados Unidos não tinham imposto de renda, como a maioria das nações, e a receita vinha de tarifas. E tem gente que acha que esse é o modelo mais adequado para o desenvolvimento. Não concordo com isso. Acho que a gente retrocedeu a um passado que era pior”, disse. “O livre comércio criou um ambiente extremamente positivo para os Estados Unidos. É verdade que eles têm déficit com a maioria dos países. E daí? Qual o mal que isso causou aos Estados Unidos? Nenhum. Pelo contrário, promoveu enorme desenvolvimento.”
Quando o ‘saloon’ está muito bagunçado e entra alguém com uma estrela no peito, a coisa tende a se acalmar
Esteves também colocou em xeque a política de Trump em relação à imigração. “Claro que tem a imigração ilegal, um excesso que tem de ser combatido. Por outro lado, é uma sociedade baseada na imigração, mais ou menos como o Brasil. A imigração só fez bem aos Estados Unidos.” Em relação às consequências geopolíticas das decisões de Trump, no entanto, ele afirmou que a tendência é de as tensões se dissolverem. “Eu acho que, quando o ‘saloon’ está muito bagunçado e entra alguém com uma estrela no peito, a coisa tende a se acalmar”, afirmou.
De acordo com Esteves, o aumento das tarifas sobre as importações de aço e de alumínio para 25% anunciado por Trump deverá ter pouco impacto sobre o Brasil, que mantém boas relações comerciais com vários países. “O Brasil está relativamente protegido da guerra tarifária. As tarifas impactam mais os exportadores industriais, um setor em que o País não é tão forte. Nós exportamos commodities, onde essas tarifas não se aplicam muito”, disse. “De modo geral, a região mais vulnerável nisso tudo é a Europa, que é um exportador industrial e é superavitário tanto com os Estados Unidos quanto com a China.”
Em sua participação no evento do BTG, ele falou ainda sobre a escalada do dólar em relação ao real no fim do ano passado. “O Brasil não tinha fundamentos econômicos que sugerissem uma crise do tamanho da que a gente viu, principalmente ao longo de dezembro”, afirmou. “Agora, o recuo (do dólar) nesses primeiros 45 dias do ano, também não tem a ver com os méritos do Brasil. O que está acontecendo agora é alguma coisa meio global”, acrescentou Esteves, para quem a cotação da moeda americana em relação ao real pode já ter atingido o seu piso.