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Professor da PUC-Rio e economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo escreve quinzenalmente

Opinião | Depois da tempestade do dólar, a bonança do real pode durar pouco

Recuo da moeda americana decorre de fatores conjunturais que deverão se dissipar no futuro; enquanto a baixa credibilidade da política econômica tende a persistir ao longo de 2025

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Foto do author José Márcio de Camargo

No quarto trimestre de 2024, o real se desvalorizou quase 10% ante o dólar. O Banco Central vendeu mais de US$ 30 bilhões, e as taxas de juros atingiram níveis próximos a 16% ao ano.

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Segundo nossa avaliação, esse comportamento dos preços dos ativos se deve à perda de credibilidade da política econômica (políticas monetária e fiscal).

Após a tempestade, veio a bonança. O real entrou em trajetória de valorização e as taxas de juros recuaram para próximo de 14,50%. O que aconteceu? A política econômica ganhou credibilidade?

Nossa avaliação é que a questão da baixa credibilidade da política econômica persiste e será um fator importante ao longo de 2025. A bonança decorre de fatores conjunturais que deverão se dissipar no futuro.

Fatores como tarifas de Trump e preço das ações para investidores ajudaram na melhora Foto: JF Diorio/Estadão

Em primeiro lugar, o Brasil ficou “muito barato”: real muito desvalorizado, diferencial de juros muito grande e ações muito descontadas. Situação similar ao ocorrido com o anúncio do arcabouço fiscal em 2023: estava claro que o programa não seria suficiente para estabilizar a dívida. Mas, como o Brasil estava barato, valia a pena correr o risco e os preços dos ativos subiram.

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Um segundo fator foi o nível de tarifas anunciado pelo presidente Donald Trump. Ao contrário do que havia prometido na campanha eleitoral, o governo americano não implementou uma tarifa universal sobre todas as importações, e as que foram anunciadas sobre as importações de México, Canadá (25%) e China (10%) vieram bem abaixo do esperado. E foram suspensas por 30 dias para dar tempo às negociações entre os países.

Os sinais são de que esse comportamento não deverá prevalecer no futuro. Aparentemente, Trump pretende usar as tarifas como arma para conseguir outros objetivos, como financiar parte da segurança das fronteiras, fortalecer a posição do dólar como reserva global de valor, aumentar a receita tributária, reestruturar o comércio global, gerar reciprocidade etc.

Terceiro, janeiro tem recesso do Legislativo, reduz os ruídos políticos e diminui a volatilidade. A volta do Congresso em fevereiro deverá ser um fator adicional de preocupação para os investidores.

Finalmente, sinais de desaceleração da atividade econômica começam a aparecer: queda da produção industrial e do setor de serviços, e mercado de trabalho sinalizando desaceleração. Em outras palavras, mais desemprego combinado a uma taxa de inflação em elevação.

O risco é o governo reagir com menos juros e política fiscal mais expansionista, com efeitos ainda mais negativos sobre a credibilidade. A bonança pode durar pouco.

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Opinião por José Márcio de Camargo

Professor aposentado do Departamento de Economia da PUC-Rio, é economista-chefe da Genial Investimentos

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