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Professor da FEA-USP e membro da Academia Paulista de Letras, José Pastore escreve mensalmente

Opinião | Maioria das vagas de emprego é de má qualidade

Grosso do postos de trabalho disponíveis está em atividades com baixos salários e alta rotatividade

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Por José Pastore

Em relação ao início da pandemia, o emprego está se recuperando depressa. Só em 2021 foram gerados 2,7 milhões de postos formais. Apesar disso, a massa salarial diminuiu por causa da inflação. O governo diz que ela baixará a partir do próximo mês. Ainda assim, será improvável a recuperação do poder de compra até o fim do ano. O que deve ajudar as famílias mais pobres são as transferências do governo. Mas isso será passageiro, com validade até 31 de dezembro de 2022.

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O que se pode esperar no médio prazo? O mercado de trabalho oferecerá empregos de boa qualidade, bem remunerados e protegidos pelas leis sociais?

Nas grandes metrópoles, fala-se muito nas vagas que continuam abertas em tecnologia da informação, serviços especializados e alguns nichos industriais. A escassez de pessoal qualificado nesses setores é uma realidade. Mas eles representam poucos empregos dentro da força de trabalho de 105 milhões de brasileiros. O grosso dos postos de trabalho disponíveis para a maioria das pessoas está em atividades muito simples na agricultura, mineração, pequeno comércio e serviços, com baixos salários e alta rotatividade.

Os números são eloquentes: 18,5% dos brasileiros fazem tarefas elementares do pequeno comércio e serviços (balconistas, repositores, entregadores, etc.); 9,5% fazem o mesmo na agricultura e mineração (lavradores, ordenhadores, operadores de máquinas, etc.); assim também ocorre com uma parte (6,5%) das pequenas indústrias de fundo de quintal (ajudantes gerais, embaladores, faxineiros, etc.). O quadro se repete com 6,4% na construção civil (serventes, pedreiros, vigilantes, etc.); 5,9% estão nos serviços domésticos; 5,3% no transporte (motoristas, ajudantes, entregadores por aplicativos, etc.); 5,1% nos bares, restaurantes e hotéis (garçons, ajudantes de cozinha, arrumadeiras, etc.); e 5,6% nos chamados “outros serviços”, que incluem manejo de animais, apoio florestal, manutenção de esgotos, escoamento de resíduos, sapateiros, relojoeiros, chaveiros, bicicleteiros e outras atividades que demandam pouca qualificação e remuneram mal.

Bem diferente é a situação da Alemanha, que exporta 50% em bens e serviços de alta tecnologia, todos ancorados em trabalho qualificado e bem remunerado. Convenhamos: levará tempo para a atual estrutura de empregos mudar no Brasil.

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*PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, PRESIDENTE DO CONSELHO DE EMPREGO E RELAÇÕES DO TRABALHO DA FECOMERCIOSP, É MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

Opinião por José Pastore
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