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Economista e sócio da MB Associados

Opinião|Putin cometeu o maior erro da vida ao achar que venceria logo a guerra e vai pagar um preço alto

Grandes perdas serão inexoráveis: a parceria histórica com a Alemanha e a redução da demanda de petróleo que resultará da aceleração da descarbonização

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Foto do author José Roberto Mendonça de Barros

A invasão da Ucrânia foi uma surpresa para muitos, embora Putin já tivesse dado amplos sinais de que buscaria a todo custo recriar uma grande Rússia. Sua expectativa de uma vitória rápida se mostrou totalmente equivocada, como sabemos hoje, seis meses depois do início dos combates. Kiev não foi tomada, e uma luta feroz ainda se dá na disputada região do Donbass.

Além da elevada resistência encontrada no campo de luta, as hipóteses de Moscou quanto à resposta da Otan também se mostraram um grave erro: em vez de divisionismo e timidez, o que se viu foi união e uma forte reação.

Vladimir Putin, presidente da Rússia; país vai sofrer as consequências de ter declarado a guerra Foto: /Mikhail Klimentyev/Kremlin via Reuters

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Esta também incluiu sanções impostas à Rússia e a saída de centenas de empresas do país. Em resposta, Putin apertou a censura e a repressão sobre a sociedade, endurecendo de vez o regime e reforçando os controles sobre a economia. Considerando a forte elevação dos preços de petróleo e gás e a competente operação do Banco Central, a economia russa se defendeu relativamente bem, tendo o PIB do segundo trimestre caído apenas 3,5%.

Muitos analistas concluíram, então, que as sanções foram pouco eficazes e que a Rússia seguirá adiante, mais voltada para a Ásia. Acho esta última conclusão completamente equivocada. Ao contrário, acredito que Putin fez o erro da vida e o seu país irá pagar um preço extraordinariamente elevado nos próximos anos.

Antes de tudo porque os custos humano e econômico da guerra serão muito altos, especialmente se considerarmos que o PIB da Rússia é apenas o 11.º do mundo. Mais ainda, o país vai perder o maior cliente de seus produtos mais relevantes, sendo que o óleo pode ser vendido na Ásia, com desconto, mas o gás, neste momento, não.

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Além disso, a população da Rússia, um ativo geopolítico relevante, está caindo em termos absolutos e envelhecendo. Mas tem coisa pior: o bloqueio das importações de bens, partes e peças de mais alta tecnologia vai começar a limitar a produção corrente e novos investimentos, o que inclui o próprio petróleo. Espera-se que a produção em 2023 seja pelo menos 2 milhões de barris/dia menor do que a de 2019.

Da mesma forma, a dificuldade de acesso a chips ultramodernos limitará a produção de armas, produto relevante na geopolítica russa. Finalmente, duas grandes perdas serão inexoráveis: a parceria histórica com a Alemanha, a economia mais poderosa da Europa, e a redução da demanda de petróleo que resultará da aceleração da descarbonização, incluindo a rápida eletrificação da frota de veículos.

Por tudo isso, a Rússia perdeu a guerra.

Opinião por José Roberto Mendonça de Barros

Economista e sócio da MB Associados

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