É possível que, no último trimestre de 2010, a economia não cresça mais de 0,2%, em relação ao mesmo período do ano anterior. Quando um novo presidente assumir o governo, a atividade econômica, nesta comparação, estará rodando a míseros 0,8% anualizados - um ritmo de recessão. Com relação ao trimestre anterior, a taxa anualizada daria acomodados 4%.
Considerando o ano civil cheio, no entanto, o crescimento de 2010, em relação ao ano de 2009, poderá ser pouco inferior aos "chineses" 7% agora previstos e que tantas preocupações provocam nos especialistas em projetar o passado. Quem olha para frente observa que os "riscos" de um crescimento "chinês" - para o Brasil e até mesmo para a China - são cada vez menores.
A projeção acima pode ter ares de ciência econômica sofisticada, mas não passa de um reles e banal exercício aritmético. Valeu-se apenas da hipótese de que o crescimento já estimado pelos oráculos do mercado para o segundo trimestre de 2010 - algo perto de no máximo 1%, em relação ao trimestre anterior - poderá se repetir a cada trimestre seguinte. Mero cálculo de porcentagens. Mas faz sentido.
Depois do crescimento de 9% no primeiro trimestre sobre o mesmo trimestre do ano passado, a economia parece ter andando, no segundo tri, a uma velocidade de 7% sobre o segundo tri de 2009. Mantido o ritmo de 1% sobre o trimestre anterior, no terceiro tri de 2010, o avanço será de 5,8% sobre o terceiro trimestre de 2009. E não passaria de 0,2%, na comparação do quarto trimestre de 2010 com o quarto trimestre de 2009. Também, neste quarto trimestre de 2009, o crescimento sobre o trimestre anterior foi forte: 2% (e 4,3% sobre o quarto trimestre de 2008)
O resumo da planilha é que, entre outros motivos por causa da base de comparação, deve ocorrer uma inversão de ritmos no crescimento da economia entre 2009 e 2010. O ano passado começou no vale e foi escalando a montanha. Agora, a atividade econômica faz o caminho de volta.
Com as altas nas taxas de juros já concretizadas em 2010, a parte das expectativas, na contenção do crescimento "insustentável" que os projetistas do passado vinham desenhando, já parece atuar como freio no ritmo de atividade do presente.
É de se esperar que o impacto direto da contenção monetária, no ritmo de atividade futura, comece a se fazer sentir nos próximos trimestres. Não é impossível, portanto, que o crescimento de 1% de um trimestre sobre o anterior, aplicado no exercício acima, se mostre otimista. Se assim acontecer, teremos diante de nós um aparentemente estranho mundo em que, no mesmo momento em que se fará o anúncio de um crescimento "chinês" no ano encerrado, a economia poderá se encontrar, no ano que começa, às portas de uma recessão.
Definir políticas econômicas com base em ocorrências do passado tem inúmeros inconvenientes e riscos. É assim como construir uma casa sem telhado porque, afinal de contas, não choveu no período em que os arquitetos definiram o projeto.