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Progresso social de fôlego curto

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Por Redação

As alterações positivas nos estratos sociais, no Brasil, depois de uma década e meia de maior estabilidade monetária e de aplicação mais intensiva de políticas de inclusão e transferência de renda, são um fato incontestável. Não há como negar, no agregado, a redução da pobreza e o crescimento do conjunto da população de renda dita média.   No detalhe, porém, o retrato ainda está longe do ideal. A ascensão de grupos da base da pirâmide revela uma trajetória de fôlego curto. Crescer mesmo só o segmento inferior da população que superou a linha da pobreza. Essa é a conclusão de um estudo do economista Waldir José de Quadros, do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit), da Unicamp, agora divulgado.   Ao analisar dados da PNAD 2008, Quadros constatou que o avanço dos diversos sub-segmentos da camada média, generalizado desde 2005, sofreu um freio no ano passado. Só o estrato inferior do grupo continuou crescendo.

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O economista atribui o achado ao baixo conteúdo tecnológico da economia brasileira, que se concentra na oferta de produtos e serviços de menor valor agregado. Esses produtos e serviços, por definição, exigem mão-de-obra de qualificação limitada e propensa a aceitar menor remuneração.

Para Quadros, a concentração da remuneração nas faixas mais baixas é um ponto no círculo vicioso de uma política econômica que leva à valorização excessiva do real. É preciso dar algumas voltas no parafuso do processo econômico para entender o argumento. Mas ele faz sentido.

Uma moeda local muito valorizada inibe exportações de manufaturas de maior densidade tecnológica e, ao mesmo tempo, estimula a importação desses produtos. Sobra, no fim dessa linha, uma especialização na produção de baixa densidade tecnológica. No mundo desse tipo de produção, a remuneração dos trabalhadores também tende a ser mais baixa.

Quadros ressalta que essa situação também inibe os investimentos em formação de mão-de-obra e, no fim das contas, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de produtos e processos. O baixo dinamismo das camadas mais bem situadas na escala social, diz o economista, limita a mobilidade social.

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A moral dessa história é fácil de tirar. Estabilidade monetária, transferências de renda e mesmo crescimento econômico são condições necessárias para impulsionar a mobilidade social. Mas são insuficientes se o objetivo é não apenas retirar pessoas da linha da pobreza, mas encetar um processo de melhoria generalizada de bem-estar social, inclusive com redução das desigualdades.

Sem políticas educacionais persistentes e eficazes, que dêem suporte a políticas de incentivo à inovação produtiva e ao aumento de densidade tecnológica na economia, o progresso social terá fôlego curto e alcance limitado.

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