O FMI divulgou mais uma das suas projeções para a evolução da economia mundial em 2009. Está cada vez mais pessimista. Para o Brasil, prevê um recuo de 1,3%, em 2009.
Os economistas brasileiros de mercado consultados, semanalmente, pelo Banco Central, para a publicação do boletim Focus, com projeções macroeconômicas para 2009 e 2010, seguem na mesma toada. Parece que nem o FMI nem eles já encontraram o fundo do poço. Semana após semana, vêm aumentando as estimativas de recessão para o Brasil, em 2009.
No boletim de sexta-feira, divulgado segunda-feira, a mediana das projeções para a evolução do PIB ficou negativa em 0,5%. Há um mês, a previsão dos analistas de conjuntura que participam da pesquisa Focus, apontava estabilidade (menos 0,01%). Na semana passada, previam menos 0,3%. É bem possível que avancem mais um pouco nas estimativas de recessão, nas próximas rodadas.
Há, no mercado, como se sabe, projeções de queda do PIB, em 2009, de até 4%, Mas as apostas se concentram em torno de recuos entre 1% e 1,5%. No ministério da Fazenda, a estimativa é de um crescimento de 2%. E, no Banco Central, de 1,25%. No setor privado, há uns poucos que ainda acreditam num crescimento - mas baixo -, em 2009.
Um desses, pode parecer surpresa para alguns, mas não para mim, é o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco. Franco costuma ser mais independente nas suas avaliações da economia e, mais uma vez agora, tem revelado uma visão diferente - e bem interessante - do que poderá ocorrer na economia brasileira este ano. Ele prevê uma recuperação lenta, mês a mês, podendo apontar, no fim do ano, até algum crescimento. Mas, mesmo em ascensão, na comparação com o mês anterior, só no fim do último trimestre, caso ocorra, haverá evolução positiva, em relação ao mesmo período de 2008.
Esta é, do meu ponto de vista, a avaliação mais correta diante dos efeitos da crise e da evolução do nível de atividades, no Brasil. É como se a economia tivesse despencado, de uma só vez, dez degraus da escada e, depois, começado um movimento de volta, degrau a degrau.
Por uma simples (eu diria até simplória) questão estatística, a base de comparação alta do ano passado fará com que a sensação de melhoria, na vida real, previsível desde março, não confira com os números. Assim, deverá ocorrer um fenômeno não muito comum de discrepância acentuada entre a sensação de que a economia se recupera e as estatísticas divulgadas, que apontarão, possivelmente até quase o fim do ano, para uma recessão.
Retratar a realidade de ritmos divergentes, de maneira correta, para os analistas e os jornalistas econômicos não ligeiros e não levianos, será um desafio e tanto.
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