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Julio Almeida não acha que que valorização cambial seja boa

Secretário do Ministério da Fazenda diz que ´problema´ causa demissões

Por Agencia Estado
Atualização:

O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Júlio Sérgio Gomes de Almeida, afirmou em entrevista ao Estado que discorda da avaliação de que a valorização cambial no Brasil seja um "problema bom" para o País. "Pelo contrário, é um problema terrivelmente ruim, que está, vou usar uma expressão forte, dissolvendo as relações interindustriais e as relações de mercado. A conseqüência disso é um clima tremendamente ruim e a dispensa de 350 mil trabalhadores", afirmou. Ele lembrou que só nas cadeias de vestuário foram demitidas cerca de 200 mil pessoas e, no setor de calçados, aproximadamente 140 mil. Para ele, a visão de que o câmbio seria um problema bom tem se disseminado dentro e fora do governo e pode causar danos ao País. "Eu vejo com muita preocupação esse diagnóstico crescente porque daqui a pouco nós vamos achar que não precisamos fazer nada. E precisamos. Isto tem adiado a solução para o problema e certas ações", ponderou o secretário. Almeida sublinha que o real está "sobrevalorizado" por causa dos juros altos, embora admita que a queda no risco País e a acumulação de reservas colocam a moeda brasileira em trajetória de fortalecimento. "O câmbio está sobrevalorizado, ou seja, está além do que seria pelas forças do mercado, em conseqüência de algo que não é uma virtude: o juro mais alto do planeta. O grande problema nosso chama-se câmbio, irmão siamês do maior juro do mundo". O secretário não quis apontar sobre as possíveis soluções para o problema, mas alfinetou o primeiro escalão do governo. "As soluções existem. Não vou dizer porque vai parecer pressão sobre quem executa as políticas, mas elas são mais do que sabidas. Estão colocadas em todas as mesas de todas as autoridades. Todo mundo sabe como resolver. O que falta é decisão", afirmou. As declarações do secretário expõem a discordância que existe dentro do governo entre setores majoritário do Ministério da Fazenda e o Banco Central a respeito da política de juros e câmbio. Elas foram feitas apenas um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter determinado, durante reunião ministerial, o fim das divergências públicas entre membros do governo. Elas atingem também o próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, que, apesar de já ter várias vezes manifestado preocupação com a taxa de câmbio, tem ultimamente recorrido à explicação de que o real valorizado reflete os bons fundamentos da economia. As afirmações de Almeida repercutiram mal no Ministério da Fazenda. Ao tomar conhecimento das declarações do subordinado, Mantega chamou-o ao seu gabinete para uma conversa. No início da noite, a assessoria do ministro transmitiu aos jornalistas apenas uma curta informação "não há o que comentar. As declarações do secretário foram feitas em caráter pessoal". Nos corredores do ministério, comentava-se a possibilidade de Almeida vir a deixar o cargo. Na segunda-feira, o novo secretário de Acompanhamento Econômico da Fazenda, Nelson Barbosa, que até há pouco tempo era adjunto de Júlio Almeida, havia afirmado que a valorização do câmbio era um problema bom. Segundo Barbosa, o câmbio reflete uma mudança na situação econômica do País, que no passado sofria com escassez de dólares e agora, com um saldo comercial forte - que ele classificou de âncora da estabilidade - tem sobra de divisas. Juros altos Barbosa reconheceu que o juro alto contribui para a valorização da moeda brasileira, que será atenuada, na visão dele, com a aceleração do crescimento, elevação nas reservas e redução dos juros. Mesmo tendo dado uma resposta direta a um colega de ministério, Almeida afirmou que não há problema entre os dois. "Não há rusga. Só acho essa tese equivocada e vejo com grande preocupação a difusão dessa idéia. O câmbio é um problema mau", afirmou. "Se o diagnóstico é errado, a ação será errada". Para Almeida, o bom momento da economia brasileira deve ser aproveitado para resolver o problema da "valorização artificial" do câmbio. "O Brasil está crescendo este ano, com muitos dados positivos e é neste momento de bonança que tem que se ver os problemas, e não escamoteá-los", sentenciou. Ele disse ainda que a conseqüência do câmbio valorizado no Brasil é gerar "uma economia que investe pouco e é subindustrializada", em comparação com países desenvolvidos. "O câmbio valorizado não é bom porque está destruindo a indústria e não corresponde a uma virtude, mas sim a uma grande distorção que são nossas taxas de juros", disse.

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