Apesar do aceno dos candidatos à Presidência da República de que os juros devem baixar para estimular o crescimento econômico, a crise financeira e as incertezas quanto ao próximo governo levaram nesta semana os juros de longo prazo a subir. O mercado já projeta para 2003 juros muito acima da taxa Selic - taxa básica referencial de juros da economia. Praticamente todos os bancos estão captando dinheiro via CDBs a taxas prefixadas de até 29% para vencimentos de 360 dias, enquanto a taxa de curto prazo continua mais próxima da Selic, que está fixada em 18% ao ano. Para o investidor, apesar de utilizarem uma mesma curva de referência para os juros, os bancos calculam as taxas de seus CDBs de forma distinta, conforme a necessidade e a política de captação de cada um. Na quarta-feira, por exemplo, o Itaú estava oferecendo uma remuneração de 17,34% ao ano para aplicações de R$ 30 mil em 180 dias, enquanto o Bradesco concedia 22,99% para os mesmos valores e prazos. Segundo os analistas, a inclinação da curva de juros futuros é a maior desde a crise cambial de 1999, quando o regime de câmbio fixo foi substituído pelo flexível. "Como o mercado percebe riscos, pede prêmios cada vez maiores", afirma o diretor-executivo da Unibanco Asset Management (UAM), Jorge Simino. De acordo com o diretor de investimentos do ABN Amro, Alexandre Póvoa, o estresse do mercado se deve a duas razões: temor de que a política econômica do próximo governo provoque aceleração de inflação (o que exigiria taxas de juros nominais maiores) e medo de que um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) envolva a exigência de juros mais altos. Segundo Póvoa, as taxas projetadas para 30 dias já apontam para um aumento imediato da Selic, uma vez que o CDI com vencimento em 2 de setembro estava sendo negociado na sexta-feira a 19,8% ao ano. Para justificar a taxa, o Comitê de Política Monetária (Copom) teria de elevar a Selic para 21,4% na próxima reunião mensal do dia 15 de agosto. O próprio analista acha "muito pouco provável" que isso ocorra, porque tal decisão agravaria as incertezas sobre a solvência da dívida pública, que aumentou R$ 73 bilhões em julho. Pelo mesmo motivo, para Simino, a elevação dos juros "não faz sentido". Na semana passada, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, disse que não havia perspectiva de alta dos juros, mas alertou que essa opinião poderia mudar "no dia seguinte". De fato, o último boletim Focus do BC, de 26 de julho, projetava uma taxa Selic de 17% ao ano para 2002 e de 15% para 2003, mas isso foi antes da alta recorde do dólar dos últimos dias. "Hoje existe uma grande expectativa de elevação dos juros para segurar o câmbio", avaliava, na quarta-feira, o diretor de Mercados de Capitais do Boston, Alberto Gaidys. Ele alerta que, apesar da forte inclinação atual da curva de juros futuros (que em períodos normais é pouco inclinada), a situação já foi mais grave na época em que o governo adotava o câmbio fixo e precisava descarregar todos os ajustes sobre a política monetária. "Na crise asiática, o juro de curto prazo era de 30%, e o longo, de 60%", lembra Gaidys. "Se o câmbio não fosse livre, as taxas de hoje estariam acima dos 50% ao ano." Não deixe de ver no link abaixo as dicas de investimento, com as recomendações das principais instituições financeiras, incluindo indicações de carteira para as suas aplicações, de acordo com o perfil do investidor e prazo da aplicação. Confira ainda a tabela resumo financeiro com os principais dados do mercado.