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Economista

Opinião | Quem lidera as escolas? É preciso desenvolver um processo que avalie as competências para a gestão

O País precisa de lideranças inovadoras e próximas à vida nas escolas, como Darkson Vieira, diretor da escola estadual de Cocal dos Alves, no Piauí

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Foto do author Laura Karpuska

Cocal dos Alves, no Piauí, tem 6 mil habitantes. O município também tem mais de 300 medalhas conquistadas na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas e Privadas (Obmep). A escola estadual Augustinho Brandão é destaque entre as premiadas. Darkson Vieira, diretor da escola, foi professor e coordenador antes de se interessar pela gestão escolar, tendo feito uma especialização na área. Em 2021, recebeu o convite do corpo escolar para assumir a direção.

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Sabemos que a figura do diretor é importante para a qualidade da escola. Mas o que exatamente faz a escola de Darkson ser bem-sucedida? O que faz dele um bom diretor?

Pesquisas identificam seis competências principais: estabelecer objetivos e prioridades claras para a escola; desenvolver equipes docentes e discentes engajadas e motivadas; promover uma cultura organizacional inclusiva; supervisionar atentamente a gestão pedagógica; administrar recursos eficientemente; e estabelecer relações produtivas com a comunidade externa à escola.

No Brasil, diretores podem assumir o cargo por três meios principais: indicação política, eleição pela comunidade escolar ou concurso público. Nos últimos anos, os concursos têm ganhado popularidade entre as redes de São Paulo. Em Ribeirão Preto, por exemplo, o Tribunal de Justiça determinou em 2022 que a seleção baseada em currículo e entrevistas era inconstitucional, exigindo a adoção de concursos.

Provas de concursos para diretor frequentemente priorizam conhecimentos de língua portuguesa, matemática e legislação – competências distantes dos desafios enfrentados no cotidiano escolar Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Impulsionados erroneamente por uma ideia de justiça seletiva, os concursos deixam dúvidas sobre sua eficácia e capacidade de selecionar líderes bem preparados. As provas frequentemente priorizam conhecimentos de língua portuguesa, matemática e legislação – competências distantes dos desafios enfrentados no cotidiano escolar. Indicação política e eleição pela comunidade escolar também podem deixar a desejar se não houver uma estrutura clara que foque nas competências adequadas.

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A escola Augustinho Brandão e Darkson são, hoje, exceções. Como selecionar líderes escolares para que mais pessoas com potencial e as competências necessárias se interessem pela carreira e tenham a chance de ocupar essa posição? É preciso desenvolver um processo que avalie amplamente as competências realmente necessárias à gestão escolar, promovendo não apenas mérito teórico, mas uma liderança preparada, inovadora e próxima da realidade escolar. Mesmo que os concursos ajustem suas provas, o risco moral permanece devido à estabilidade adquirida. Como podemos, então, encontrar e sustentar os Darksons pelo Brasil?

(*) Coluna escrita em colaboração com Filomena Krauel, doutora em Administração Pública pela EAESP-FGV.

Opinião por Laura Karpuska

Professora do Insper, Ph.D. em Economia pela Universidade de Nova York em Stony Brook

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