Quando os KPIs Falham: Resgatando a alma das empresas
Recentemente, participei de um evento da Angelus Network, uma rede de mulheres dedicada a fortalecer lideranças femininas. Durante o bate-papo sobre diversidade e inclusão, surgiu a questão de como levar ideias e práticas de diversidade e inclusão para o centro estratégico das discussões nas altas lideranças e uma das perguntas era como traduzir o D&I em termos de KPIs. Nesse contexto, comecei a refletir sobre o papel dos Indicadores-Chave de Desempenho (KPIs) e a sua adequação para mensurar questões tão complexas e dinâmicas. Foi então que percebi a importância de abordar não apenas para que servem os KPIs, mas também para me valer da óptica sistêmica para analisar o tema de forma mais significativa e contextualizada.

Quando falamos dos KPIs e de outras métricas, muitas vezes colocamos o lucro em primeiro lugar, o fator predominante que determina o sucesso de uma empresa. Essa abordagem pode se tornar uma falácia, pois reduz o propósito das organizações a meramente gerar lucro. É vital lembrar que as empresas não surgiram somente para maximizar resultados financeiros; historicamente, elas foram criadas para sustentar a vida em sociedade. Na Roma antiga, por exemplo, as empresas existiam para prover alimentos e necessidades básicas a uma população de um milhão de habitantes, em um contexto onde a agricultura local e os artesãos não conseguiam suprir a demanda. Portanto, é crucial resgatar a ideia de que as empresas devem servir à humanidade, em vez de serem vistas apenas como máquinas geradoras de lucro.
Quando refletimos sobre a diversidade e inclusão no ambiente corporativo, é fácil cair na armadilha de pensar que devemos justificar essas iniciativas com base no lucro potencial que elas podem gerar. Entretanto, se nos concentrarmos apenas nesse aspecto, corremos o risco de ignorar outras facetas importantes. A promoção de um ambiente inclusivo e diverso passa por outras perspectivas: ter dentro de casa as vozes que estão no mercado e na sociedade; multiplicar e diversificar soluções.
Além disso, os KPIs frequentemente olham para o passado ou para resultados de curto prazo, limitando a capacidade das organizações de se prepararem para um futuro em constante evolução. Essa visão tão restrita torna desafiador implementar mudanças que possam beneficiar a empresa a médio e longo prazo. Para realmente escapar da armadilha dos KPIs e das grandes planilhas repletas de números, é essencial ampliar nosso olhar. Isso significa escutar as narrativas que estão emergindo, compreender as necessidades do contexto em que a empresa está inserida e reconhecer que fazemos parte de um ecossistema mais amplo. Esse "duplo olhar" -- um voltado para dentro, focando na saúde interna e na longevidade da organização, e outro voltado para fora, atento às relações e interações com os ambientes responsáveis -- é fundamental. As empresas devem cuidar de sua conexão com o exterior, assegurando que mantenham relações saudáveis dentro dos ecossistemas em que atuam. Ao adotar essa abordagem mais holística, as organizações não apenas enriquecem suas práticas, mas também se tornam mais preparadas para enfrentar os desafios e aproveitarem as oportunidades do futuro.