Lideranças da Câmara veem complacência do governo com projeto do Senado

Texto prevê ampliação do BPC e do auxílio emergencial de R$ 600

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Foto do author Adriana Fernandes

BRASÍLIA - A aprovação pelo Senado de um projeto que amplia o alcance do auxílio emergencial deflagrou um novo capítulo de desgaste político entre a Câmara e o governo. A proposta que chegou para apreciação dos deputados contém um novo auxílio a trabalhadores com carteira assinada que pode custar mais R$ 114 bilhões aos cofres públicos, de acordo com análise encaminhada pela Secretaria de Governo da Presidência da República (Segov) aos líderes de partidos.

Palácio do Planalto; Baixo crescimento, inflação que corrói, pobreza que cresce e oportunidades que se esvaem nos acompanharão às urnas em 2022, quando faremos a escolha que determinará os anos seguintes. Foto: André Dusek/Estadão

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Lideranças da Câmara, ainda ressentidas pela reação contrária do governo na negociação no projeto que dá um socorro aos Estados, reclamam que a gritaria do governo está sendo menor no caso da proposta do novo auxílio, apesar do impacto maior, e veem razões políticas para isso. O projeto, que deverá ser votado nesta quinta, 16, pelo plenário da Câmara, tem potencial para ampliar gastos em R$ 143,7 bilhões só neste ano.

O valor total é maior porque o texto tem outras duas mudanças: amplia o alcance de um benefício permanente para a baixa renda, o Benefício de Prestação Continuada (BPC), a um custo de R$ 20 bilhões ao ano, e estende o auxílio emergencial de R$ 600 a informais, temporário durante a crise da covid-19, a um contingente 7,5 milhões maior que o inicial, a um custo de R$ 9,7 bilhões. De todas as mudanças, a única que tem apoio do governo é a do auxílio emergencial.

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Já o custo para as finanças da União do projeto de auxílio aos Estados e municípios é de R$ 93 bilhões, segundo nota técnica do Tesouro. Mas a equipe econômica do governo federal alega, porém, que a proposta representa um “cheque em branco”, já que atrela o repasse à perda de receita por seis meses do ICMS e ISS em relação à arrecadação de 2019.

De acordo com a análise da Segov, obtida pelo Estado, o artigo 4º do projeto do Senado cria um Programa de Auxílio Emprego com uma série de inadequações. Entre elas, não tem critérios claros definidos; não beneficia todos os empregados e empresas; não relaciona salário do empregado com benefício a ser concedido; não define formato para sua operacionalização e não tem prazo de cobertura ou valor a ser coberto. 

Na análise, o governo reforça que já enviou sua proposta de proteção ao emprego e à renda, por meio da Medida Provisória 936, que permite redução de jornada e salários ou suspensão de contratos, com pagamento de um benefício equivalente a parte do seguro-desemprego. Na visão da equipe econômica, a proposta é ampla e de fácil implementação, protegendo a todos os empregados.

“Não podemos transigir, pois esse novo Programa trará dificuldades operacionais e atraso no pagamento do Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda e não há fonte de recursos”, diz o documento, que reproduz cálculo do Ministério da Economia de que o custo pode ficar em R$ 114 bilhões para quatro meses.

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Aliados do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticam a posição do governo de atacar o projeto dos Estados de “fake news” e pouco falar publicamente do projeto do Senado com custo maior. “Fica parecendo que é uma perseguição contra a Câmara”, disse um líder da Câmara, que recebeu o documento da Segov, mas falou ao Estado na condição de anonimato. O governo, por outro, lado tenta viabilizar um acordo para o projeto de socorro aos Estados via o Senado com apoio do presidente Davi Alcolumbre (DEM-AC).

Em transmissão realizada hoje porém, representantes do Ministério da Economia falaram sobre o projeto. Segundo o chefe da Assessoria Especial de Relações Institucionais da pasta, Esteves Colnago, a estratégia do governo é focar no programa que foi encaminhado antes. “É um programa que tem uma melhor focalização. Entendemos que a segurança jurídica que ele nos dá é mais robusta”, disse. Segundo ele, o projeto do Senado é muito aberto e com custo fiscal elevado e de difícil aferição. “Entendemos que os deputados poderiam não aprovar esse dispositivo nesse momento e fazermos uma parceria em relação ao outro projeto”, afirmou Colnago.