SÃO PAULO e RIO – Com a venda de ativos e o crescimento da produção, a Petrobrás fechou o ano de 2019 com lucro recorde, de R$ 40,1 bilhões. O bom resultado reflete o novo momento da empresa, agora mais concentrada no petróleo do pré-sal, que, entre as demais regiões produtores, oferece mais rentabilidade ao seu caixa. Ao mesmo tempo, a companhia encolheu ao se desfazer de subsidiárias de outros segmentos de negócio, como do controle da BR Distribuidora, da rede de gasodutos da TAG e da distribuidora de gás de cozinha Liquigás.
“Não se trata de discutir se a Petrobrás será maior ou menor no futuro. Nossa meta é que no futuro seja muito melhor”, destacou o presidente da empresa, Roberto Castello Branco, em carta de apresentação do resultado ao mercado. Segundo ele, os desinvestimentos foram fundamentais para ajudar a viabilizar o foco nos ativos que, em sua opinião, são naturalmente da empresa.
O conjunto de ativos vendidos no ano passado rendeu US$ 16,3 bilhões à companhia, valor que convertido ao real equivale a R$ 71 bilhões. Apesar de contar com mais dinheiro, a empresa também ficou mais endividada. O compromisso com credores subiu para US$ 78,86 (R$ 343 bilhões) e, consequentemente, tornou mais distante a meta financeira de chegar ao fim do ano com um patamar de endividamento equivalente a uma vez e meia a sua geração de caixa.
Pré-sal
Isso aconteceu porque em 2019 a empresa teve um elevado gasto com a compra de áreas do pré-sal, conhecidas como excedentes da cessão onerosa. No leilão, em que saiu como a grande vencedora, a estatal se comprometeu com o pagamento de bônus de assinatura bilionários à União o que consumiu boa parte do dinheiro que entrou com a venda de ativos.
Um dos principais blocos adquiridos no leilão foi o de Búzios, na Bacia de Santos, considerado a grande promessa do reservatório brasileiro. A avaliação da Petrobrás é que esse é um ativo de primeira linha, de baixo risco e custo de extração.
“Estamos num negócio com horizonte de longo prazo, em que temos os desafios de mitigar os efeitos negativos dos muitos erros cometidos no passado, cuidar do curto prazo e nos prepararmos para as próximas décadas”, disse Castello Branco.
Em 2019, a estatal superou a marca de produção de 3 milhões de barris de petróleo e gás natural por dia (boe/d). Grande parte desse volume saiu do pré-sal, principalmente, do campo de Lula, na Bacia de Santos, no litoral do Rio de Janeiro. Isso aconteceu porque a empresa conseguiu colocar em operação num curto período de tempo oito plataformas que há anos estavam em construção.
Em contrapartida, a Petrobrás sofreu influências negativas do desaquecimento da economia no ano passado e da competição com importadores. Com isso, a venda de derivados de petróleo caiu e, como consequência, a receita da empresa retraiu 2,58%, para R$ 302,24 bilhões. O principal baque foi sentido no mercado de gasolina, que encolheu 9,4% com a presença de concorrentes.
Ainda assim, a gasolina continua a ser o segundo produto mais importante no portfólio da companhia. Em primeiro lugar está o óleo diesel, responsável por 48% da receita com a venda de derivados de petróleo.
“A Petrobrás vem crescendo significativamente a participação das exportações no total da sua receita. De 2018 a 2019, a participação das exportações na receita subiu de 18,1% para 23,8%, enquanto as receitas com a venda de derivados caiu para 61,1%”, avaliou o economista e pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Rodrigo Leão. /CRISTIAN FAVARO, WAGNER GOMES, FERNANDA NUNES e DENISE LUNA
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