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Economista e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Luís Eduardo Assis escreve quinzenalmente

Opinião|Devemos estar preparados para ver a diferença entre Bolsonaro e Lula diminuir nas próximas semanas

A sazonalidade favorece Bolsonaro e o quadro eleitoral não está consolidado

Atualização:

“É a economia, idiota.” A frase de James Carville, assessor de Bill Clinton na campanha de 1992, começou como advertência, virou mantra, seguiu carreira e se aposentou como um lugar-comum que tem hoje pouco significado.

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Parece óbvio que as condições econômicas influenciam a sensação de bem-estar dos eleitores e direcionam em algum grau seus votos. Mas a frase se esgota aqui. Nem poderia ir além, já que ninguém sabe quão forte é esse vínculo.

Uma alternativa é perguntar para quem vota. Na pesquisa Genial/Quaest realizada no começo do mês, 58% dos eleitores responderam que a situação econômica influencia muito o seu voto. Outros 21% disseram que a economia influencia de alguma forma. A mesma pesquisa constatou que 33% dos eleitores podem mudar seu voto caso “algo aconteça”.

Bem, essa não é boa notícia para a campanha de Lula porque algo está acontecendo. As expectativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022 eram de 0,3% no começo do ano, mas estão chegando a 2% agora.

PIB, claro, não enche barriga, mas a pesquisa mostra também que a avaliação negativa do governo Bolsonaro caiu de 50% para 43% nesse mesmo período. Entre as pessoas que recebem o Auxílio Brasil, a avaliação negativa recuou de 53% para 39%. A rejeição é muito alta, mas pode cair mais com o pagamento de R$ 600 do Auxílio Brasil para mais de 20 milhões de beneficiários. Para quem recebe até dois salários mínimos, a diferença entre Lula e Bolsonaro recuou de 38 pontos em janeiro para 27 pontos em agosto. É ainda muita coisa porque a miséria e a fome são o legado do governo Bolsonaro. Mas o quadro em 2022 vem se alterando aos poucos.

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Lula e Bolsonaro; 33% dos eleitores podem mudar seu voto caso 'algo aconteça', o que não é boa notícia para a campanha de Lula.  Foto: AP Photos

A taxa de desocupação caiu de 11,1% em dezembro para 9,3% em junho, a menor desde 2015. Sim, estamos falando da precarização do trabalho, mas o fato é que o “timing” das eleições favorece o governo, ainda mais depois de dois meses de deflação.

Se Lula pudesse, deveria pedir à sua fada madrinha que as eleições fossem agora, antes que o colossal estelionato eleitoral do Auxílio Brasil tenha maior efeito, ou daqui a um ano, quando as consequências negativas dos juros altos forem mais visíveis no emprego. Mas a sazonalidade favorece Bolsonaro e devemos estar preparados para ver a diferença entre os principais candidatos diminuir nas próximas semanas. O quadro eleitoral não está consolidado. / ECONOMISTA, AUTOR DE ‘O PODER DAS IDEIAS ERRADAS’ (ED. ALMEDINA), FOI DIRETOR DE POLÍTICA MONETÁRIA DO BANCO CENTRAL E PROFESSOR DE ECONOMIA DA PUC-SP E FGV-SP

Opinião por Luís Eduardo Assis
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