Presidentes com inclinação imperial tendem a fazer suas percepções leigas prevalecerem sobre uma análise mais profunda.
Como se sabe, para cada problema complexo há sempre uma solução muito simples, intuitiva, fácil de ser implementada e errada. Presidentes com inclinação imperial tendem a fazer suas percepções leigas prevalecerem sobre uma análise mais profunda. É esse o caso da fixação infantil que o presidente Donald Trump tem sobre tarifas e saldo da balança comercial.
A ideia, primitiva, não chega a ser novidade. Trata-se de uma manifestação extemporânea das teses mercantilistas, que predominaram nos séculos 16 e 17, principalmente na Inglaterra e na França. Nessa época, o uso de sanguessugas, ópio e arsênico era comum na medicina, o que hoje é uma aberração. Isso mostra que as teses econômicas erradas são longevas – daí o seu perigo.
Há tempos já se concluiu que um saldo comercial negativo não pode ser confundido com uma empresa que dá prejuízo (como parece pensar o presidente americano) e que o isolacionismo provocado pela elevação de tarifas comerciais é prejudicial a todos.

Não à toa, os analistas de mercado preveem pressões inflacionárias nos EUA por conta do encarecimento das importações, o que pode criar obstáculos para a queda dos juros, fortalecer o dólar e desarranjar toda a economia mundial.
Os números são, de fato, superlativos. Nos últimos dez anos até 2024, os EUA acumularam um déficit comercial superior a US$ 6,8 trilhões.
Mas isso não impediu que o PIB americano tenha crescido 27,3% no acumulado entre 2014 e 2023 (último dado disponível), muito mais que os 16,5% do Reino Unido ou os 9,5% da Alemanha (o Brasil, a propósito, cresceu míseros 5,5%). A insistência com tarifas e com saldo comercial leva ao isolacionismo, o que pode implicar um crescimento mais baixo. A antítese do que deseja Trump.
Teimosia análoga acomete o presidente Lula em sua cruzada contra a responsabilidade fiscal, em que pese o esforço do seu ministro da Fazenda. Inspirado em uma corruptela rudimentar da teoria keynesiana, Lula tem a genuína convicção de que maiores gastos do governo promovem o crescimento da economia e a justiça social.
Deve até mesmo se fiar na esparrela do autofinanciamento, ou seja, na tese furada de que gastos públicos aceleram o crescimento, o que eleva a arrecadação, que, no final das contas, acaba financiando os gastos que foram adiantados.
Não há adulto na sala que o convença de que gastos em excesso, ao contrário, pressionam a inflação e induzem o Banco Central a elevar ainda mais os juros, o que segura a economia, provoca desemprego e concentra ainda mais a renda e a riqueza. A antítese do que defende o PT. A ignorância é uma maldição.