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Economista e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Luís Eduardo Assis escreve quinzenalmente

Opinião|Muito a fazer, pouco a esperar

Se o próximo governo conseguir base para as reformas fiscal e administrativa, já terá sido bastante

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Por Luís Eduardo Assis
Atualização:

Desta vez é diferente. A campanha presidencial em 2022 está polarizada entre um ex-presidente, que todo mundo conhece, e o atual presidente, que todo mundo conhece também. Isso nunca aconteceu antes (na eleição de 1965 poderia ter havido o embate entre Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek, mas o golpe militar mudou nossa história).

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Só esse fato já dilui a possibilidade de grandes surpresas e transforma o pleito em uma novidade do passado. Mas tem mais. Pela primeira vez também o Banco Central está fora do alcance do presidente que será eleito, já que há mandatos fixos para a diretoria, que será substituída gradualmente ao longo do próximo mandato.

Não dá para incluir a autoridade monetária em um pacote de surpresas para 2023. Também o Orçamento do próximo ano estará fechado quando o próximo presidente tomar posse. Para completar o ramerrão, a economia não está no topo das prioridades dos principais candidatos.

O auxílio de R$ 600, por exemplo, será mantido simplesmente porque nem Lula nem Bolsonaro podem arcar com as consequências de dizer que ele é temporário. Tudo isso, junto e misturado, joga água na fervura das expectativas para 2023, que tem tudo para ser mais do mesmo.

Não que não haja o que fazer, ao contrário. No curto prazo, o legado fiscal de Bolsonaro é explosivo. Estudo recente da FGV avaliou que o estouro das despesas combinado com a normalização das receitas poderá significar até 4,2% do Produto Interno Bruto (PIB). As hipóteses do cálculo são pessimistas, mas o resultado é estarrecedor.

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De um ponto de vista mais estratégico, o novo presidente deverá pensar em como tirar o País da saga da estagnação, já que pelas estimativas do mercado o PIB per capita de 2023 ficará abaixo do nível que estava em 2010. Estamos atolados – e sem agenda para um futuro melhor.

A campanha presidencial em 2022 está polarizada entre um ex-presidente, que todo mundo conhece, e o atual presidente, que todo mundo conhece também. Foto: Dida Sampaio/Estadão

O fato é que o próximo mandatário terá estreito raio de manobra para fazer grandes mudanças no próximo ano. Sem espaço no Orçamento e com o Banco Central batendo na tecla dos juros altos, resta acionar os bancos públicos. Mas aumentar o crédito contrasta com o objetivo de conter a inflação, o que pode demandar juros altos por mais tempo. Já vimos esse filme várias vezes.

Se o próximo governo conseguir recompor uma base parlamentar com quem possa engendrar, mais adiante, o encaminhamento das reformas fiscal e administrativa, já terá sido bastante. Moderemos nossa expectativa. / ECONOMISTA, AUTOR DE ‘O PODER DAS IDEIAS ERRADAS’ (ED. ALMEDINA), FOI DIRETOR DE POLÍTICA MONETÁRIA DO BANCO CENTRAL E PROFESSOR DE ECONOMIA DA PUC-SP E FGV-SP.

Opinião por Luís Eduardo Assis
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