Embora o governo tenha anunciado um corte, ainda provisório de R$ 37,2 bilhões, no orçamento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira, 5, que contingenciamentos orçamentários não são solução para o fim da crise financeira. "Muitos chegaram até falar em choque de gestão. Mas aqui no Brasil, no nosso governo, nunca falamos em choque de gestão. E ainda assim, a dívida líquida do setor público caiu de 57% para 36% do PIB", afirmou Lula, no discurso de abertura da 29ª reunião do Conselho de Desenvolvimento Economic e Social (CDES). Veja também: Futuro na crise só brilha para Brasil, Índia e China, diz HSBC De olho nos sintomas da crise econômica Dicionário da crise Lições de 29 Como o mundo reage à crise "Se alguém tiver uma boa ideia, nos dê. Porque nós não temos medo de dizer em bom tom que não é o presidente da República ficar trancado no seu gabinete e os ministros fazerem contingenciamento, que vamos vencer. Vamos vencer só com ousadia e coragem", acrescentou. Dirigindo-se aos empresários, Lula disse que não era para eles pedirem ao governo incentivo para a redução de salário para os trabalhadores. "Não me peçam para que os trabalhadores paguem outra vez com o arrocho de salário. A gente não pode diminuir salário", ressaltou. Lula não divulgou novas medidas, mas garantiu que a meta do governo brasileiro é manter o crescimento da economia em meio à turbulência da crise financeira internacional. Ele ainda disse que instituições federais de crédito do País aumentaram os volumes para o financiamento. Dados apresentados pelo presidente mostram que a Caixa Econômica Federal, nos dois primeiros meses deste ano, disponibilizou um total de crédito de R$ 1,9 bilhão e, no mesmo período do ano passado, o valor foi de cerca de R$ 1 bilhão. Lula ressaltou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em seu governo, voltou a ser um banco direcionado para o desenvolvimento. Para 2009, de acordo com ele, o banco de fomento disponibilizará R$ 100 bilhões para garantir o crédito para o capital de giro das empresas que estão fazendo investimentos em infraestrutura. Protecionismo Lula ainda voltou a criticar oprotecionismo e pediu mais uma vez maior empenho de dirigentes de outros países para restabelecer o crédito no mercado internacional. Em discurso que durou cerca de 40 minutos, o presidente também pediu mudanças no sistema financeiro internacional. "Devemos ter bem claro que não podemos passar do vale tudo do mercado financeiro para o vale tudo do protecionismo, para evitar uma crise pior que a da Segunda Guerra", disse. Estado Forte A uma plateia formada por empresários, ministros e economistas do exterior convidados pelo governo, Lula disse que a teoria do Estado mínimo e do Estado como estorvo ao desenvolvimento não se confirmou. "Eu estou convencido de que a saída para esta crise só acontecerá se os governantes do mundo assumirem o papel de governantes de seus países", disse. "Houve, nas últimas duas décadas, quase uma apatia. As pessoas eram eleitas sob a égide de que o Estado não valia nada e tudo seria feito pelo mercado. Era preciso diminuir e enxugar o Estado, porque o Estado atrapalhava o crescimento", completou. Segundo o presidente, o 'Manifesto Comunista'. de Marx e Engels já dava a receita para saída de crises como esta."Agora é hora da gente aproveitar a crise e fazer o que não tivemos coragem de fazer nos últimos 20 anos", afirmou.