Marfrig fecha parcerias de US$ 300 mi e fortalece presença na China

Após ganhar escala na China com a compra da americana Keystone, no ano passado, a companhia se une às chinesas COFCO e Chinwhiz para crescer com dois novos negócios: uma unidade de distribuição de alimentos e outra de processamento de frango

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Foto do author Fernando Scheller

O frigorífico brasileiro Marfrig deu ontem um novo passo para consolidar sua presença em território chinês. A empresa anunciou duas joint ventures com empresas chinesas, no valor total de US$ 309 milhões. O Marfrig se associou à COFCO e ficará com 45% de um negócio de distribuição de alimentos de US$ 252 milhões. E terá 60% de uma unidade de processamento de aves, em parceria com a Chinawhiz, ao custo de US$ 57 milhões.Esta é a segunda grande aposta da empresa na China em menos de um ano. Em 2010, a empresa comprou a americana Keystone Foods de olho especialmente no mercado chinês, onde a companhia já atuava fortemente no segmento de food service (distribuição de ingredientes para restaurantes). A compra da Keystone, pela qual o Marfrig pagou US$ 1,26 bilhão, permitiu o acesso do frigorífico à cadeia de fornecimento do disputado mercado internacional de fast food. Entre as redes parceiras da Keystone ao redor do mundo estão McDonald"s, Pizza Hut, KFC e Taco Bell.Os dois novos negócios complementam a estratégia do Marfrig na China: o negócio de logística, que incluirá seis novos centros de distribuição, investimento em frota e plataformas de tecnologia, vai garantir a qualidade dos produtos fornecidos aos restaurantes. A unidade de abate de aves reduzirá a dependência da empresa de carne terceirizada: conforme o diretor de planejamento e relações com investidores do Marfrig, Ricardo Florence dos Santos, a nova planta, a ser inaugurada em 2013, vai abastecer 50% da demanda local da Keystone para o produto.Estratégia. Segundo analistas de mercado, abrir uma operação própria na China é a maneira mais inteligente para um frigorífico internacional ganhar relevância no mercado do gigante asiático. O sócio-diretor da consultoria Alvarez & Marsal, Juan Ocerin, lembra que, embora a China seja a maior consumidora de carne suína e de frango no mundo, a produção local dá conta da demanda. "Do total das importações chinesas no agronegócio, a carne só responde por 2%. Eles compram mais grãos, pois não têm terra para viabilizar a produção", explica.De acordo com dados da consultoria Tendências, a China consome 52,5 milhões de toneladas de carne suína por ano (ou 50,5% da demanda mundial), enquanto a produção se situa em 52 milhões de toneladas. No caso do frango, o país chega a ser superavitário: consome 16,8% do total mundial, e a produção é equivalente a 17% dos abates. Apesar da autossuficiência, a analista de agronegócio da Tendências, Amaryllis Romano, diz que o país frequentemente precisa de fornecimentos emergenciais. "Eles têm problemas constantes com a sanidade do rebanho", afirma a especialista.Para Ocerin, ao se associar com importantes companhias chinesas na área da alimentação, o Marfrig se prepara para consolidar sua operação no país, ao mesmo tempo em que o grupo JBS - gigante brasileiro que é líder mundial em proteína animal - elegeu o mercado americano como sua principal plataforma de crescimento no exterior. "E o Marfrig vem para trazer conhecimento para o mercado chinês, como o transporte de alimentos em diferentes condições de temperatura", diz o analista.Global. Os dados financeiros do Marfrig mostram que a empresa aos poucos se torna mais internacionalizada. Da receita de US$ 17 bilhões em 2010, 37% (ou US$ 6,4 bilhões) vieram do exterior - em 2009, a proporção havia sido 1 ponto porcentual inferior. No entanto, a compra da Keystone ajudou a dobrar a participação asiática nas vendas externas da companhia: a fatia, que era de 8,4% em 2009, saltou para 17% no ano passado.Segundo o diretor de RI da empresa, a China tem sido um mercado cada vez mais importante para o Marfrig: "Vamos aproveitar o crescimento da renda. Alimentação é a necessidade mais básica que existe."CoincidênciaRICARDO FLORENCEDIRETOR DE PLANEJAMENTO E DE RI DO MARFRIG"Tínhamos previsto assinar os acordos nessa época. A visita (da presidente Dilma Rousseff à China) foi uma feliz coincidência."

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