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Opinião | A esperança tem cor – e é o verde da Amazônia

Oportunidade de sediar COP-30 é única, com potencial de legitimar liderança do Brasil no debate sobre temas ambientais

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Foto do author Marina Grossi

As tensões geopolíticas que estiveram tão presentes ao longo de 2024 devem continuar sendo desafios em 2025. Os conflitos internacionais seguem fazendo vítimas, gerando impactos econômicos e sinalizam que a ordem de segurança global está fragmentada demais para negociar a paz. A globalização enfrenta seus reveses, com o encolhimento do comércio internacional de bens, fissuras nas cadeias globais de suprimento, a crescente polarização política, além do sentimento disseminado de que o multilateralismo e seus valores estão perdendo a eficácia.

A eleição e o retorno à Casa Branca do republicano Donald Trump, nos Estados Unidos, alimenta ainda mais essa percepção e, na esfera climática, houve novamente o rompimento com o Acordo de Paris. Em sua gestão anterior, Trump retirou o país do Tratado e eliminou políticas climáticas adotadas por seu antecessor, Barack Obama. Seu segundo mandato já começou nessa mesma linha. A notícia da eleição de Trump contaminou com um certo pessimismo as negociações durante a COP-29, realizada em novembro em Baku, no Azerbaijão. Apesar disso, a conferência trouxe resultados importantes, como a aprovação dos artigos que devem impulsionar o mercado global de carbono, e uma cifra, ainda que insuficiente, de financiamento climático para os países em desenvolvimento – US$ 300 bilhões/ano.

Centro de Belém; cidade receberá a COP no fim do ano Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Um alento veio do encontro do G-20, realizado no Rio, que avançou em pontos importantes para a agenda do desenvolvimento sustentável, como o combate à pobreza e o redesenho da governança global. Na esfera ambiental, à frente da presidência do grupo, o Brasil defendeu o engajamento das nações para elevar o nível de ambição da próxima rodada de NDCs, que são os compromissos dos países perante o Acordo de Paris, de modo a perseguir a meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC. As novas NDCs dos países serão alvo de discussão na COP-30, em Belém, em 2025.

Histórica já de berço, a COP-30 vai atrair os olhares do mundo para o Brasil, a Amazônia, sua biodiversidade e para os povos da floresta. A realização de uma conferência sobre mudanças climáticas da ONU reacende a crença em um despertar definitivo para a emergência do clima. Como presidente da COP-30, o Brasil terá a primazia de conduzir os países na direção de um documento final robusto, que coloque o mundo definitivamente na rota da economia neutra em carbono com inclusão social. Sabemos, contudo, que ela será recheada de debates difíceis, como a continuidade da discussão sobre o financiamento necessário para os países em desenvolvimento conduzirem sua transição energética, a adaptação aos eventos extremos que já estão ocorrendo e a justiça climática.

A conversa sobre dinheiro, ponto nevrálgico das COPs, exigirá um resgate da cooperação internacional, do bilateralismo e do multilateralismo para que se chegue a soluções inovadoras e plausíveis para o enfrentamento da crise climática. Não será mais possível contar apenas com recursos concessionados, então é preciso desenvolver instrumentos financeiros calcados em blended finance, com uma combinação de capital privado e filantrópico de modo a gerar impacto positivo, com transparência e boa governança.

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O setor empresarial brasileiro está atento a essa movimentação, e já se mobiliza para reforçar o diálogo com o governo brasileiro, os governadores da Amazônia Legal e com entidades empresariais globais para construir um caminho ousado, à altura da tarefa que será realizar a COP-30. Ainda há inúmeros desafios a serem superados – sociais, logísticos, de infraestrutura e conectividade – mas a oportunidade de sediar a COP-30 é única, com o potencial de legitimar definitivamente a liderança do Brasil no debate sobre os temas ambientais. País mais megadiverso do mundo, detentor de quase 60% da floresta amazônica e de outros importantes biomas, temos autoridade para pautar o enfrentamento das crises do clima e da biodiversidade e liderar pelo exemplo. A esperança de um novo tempo tem cor – e essa cor é o verde da Amazônia.

Opinião por Marina Grossi

Economista, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds)

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